quinta-feira, 24 de abril de 2008

O IHGB E A HISTÓRIA NACIONAL: O PROJETO DE MARTIUS

CRISTIANO DE ALMEIDA DOS SANTOS
Graduando em História, FAFIDAM-UECE
Francisco Antonio da Silva, Prof. da Disciplina Historiografia Brasileira
O presente trabalho tem o objetivo de descreveR a importância do instituto Histórico e Geográfico Brasileiro na escrita e na construção de uma história nacional.
O IHGB foi criado no ano de 1838 inspirado no Institute Historique, fundado em Paris, em 1834. Desde a sua inauguração o IHGB contou com a proteção de D.Pedro II, expressa por sua ajuda financeira que a cada ano significava uma parcela maior no orçamento do Instituto. Sua proposta de instalação foi aprovada no dia 02 de Outubro de 1838, sendo que dos seus 27 fundadores, a maioria deles desempenhava funções no Estado, e seguiam a carreira da magistratura, após os estudos jurídicos, fossem eles militares ou burocratas, mesmo sem os estudos universitários, profissionalizavam-se e percorriam uma carreira na média burocracia.
Assim, em sua maioria o IHGB era formado por intelectuais, militares, políticos e burocratas que buscavam com o apoio do Império escrever a História da nação com base nos conhecimentos históricos e geográficos que eles adquiriam com os seus estudos.
A criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) vem apontar em direção à materialização deste empreendimento, que mantém profundas relações com a proposta ideológica em curso. Desta forma, com base nos ideais positivistas o IHGB pretendia fazer uma história que tivesse uma função pedagógica e que orientasse as novas gerações para o patriotismo com base no modelo dos antepassados. Uma vez implantado o Estado Nacional, impunha-se como tarefa o delineamento de um perfil para a "Nação brasileira", capaz de lhe garantir uma identidade própria no conjunto mais amplo das "Nações", de acordo com os novos princípios organizadores da vida social do século XIX. No entanto, a construção de um projeto nacional para urna sociedade marcada pelo trabalho escravo e pela existência de populações indígenas envolvia dificuldades específicas, tal como a criação de um discurso homogeneizador que unisse as suplicas das minorias e os ideais das elites.
Assim torna-se uma tarefa para os historiadores brasileiros pensar o Brasil segundo os postulados próprios de uma história comprometida com o desvendamento do processo de gênese da Nação, processo esse ao qual se entregam os letrados reunidos em torno do IHGB. O discurso esboçado para a Nação brasileira e que a historiografia do IHGB cuidará de reforçar visa a produzir uma homogeneização da visão de Brasil no interior das elites brasileiras.
A preocupação com uma história que tomasse a idéia de um passado nacional, comum a todos os “brasileiros”, que teve início com o surgimento político do Brasil independente, instigava a produção de uma história que criasse a idéia de um passado nacional, eliminando assim várias versões sobre o passado da Nação. A análise da monografia de Von Martius permitiu uma visualização mais clara das reais intenções do Império, assim percebemos como a história oficial brasileira foi organizada de acordo com os interesses de D. Pedro II e de sua elite durante o século XIX.
Os membros da elite imperial observavam cada vez mais a necessidade de se criar um sentimento de nacionalidade, de patriotismo e para isso era necessário ter uma história, uma memória nacional e claro, uma história contada de acordo com os interesses do Imperador.
O projeto de Martius revela as orientações políticas e culturais que vão delineando a organização jurídica-política do Brasil independente. Com uma posição eurocêntrica, e com o entendimento de que o Brasil pertencia à esfera da civilização cristã européia
No projeto, Martius destaca o “tão útil quão glorioso intento” do IHGB em fundar uma historiografia nacional oficial “para este paíz que tanto promete”. Percebe-se a intenção de produzir uma história nacional que oficializa uma relação harmoniosa entre a raça branca e as raças inferiores (índios e negros) e o destaque para as florestas tropicais, paisagens celestes, o paraíso dos trópicos. Assim, desenhou-se uma cultura com dois elementos: a realeza como civilização e a natureza territorial como base natural.
O português branco é descrito como herói e responsável pela expansão e desenvolvimento do país. Afirma-se que o português deu condições para que se construísse um reino independente. Ou seja, foi o branco que levou o Brasil à civilização.
Entretanto, embora Martius tivesse sido o ganhador do concurso com a monografia “Como se deve escrever a História do Brasil” sua proposta de uma história do Brasil que teria como eixo a formação de seu povo, incluindo nesta formação a “mescla das raças” não foi posta em prática tendo em vista a realidade sócio-política do país e a dificuldade de arcar com tal projeto proposto pelo distinto naturalista.
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Observa-se assim que desde o inicio o IHGB teve o apoio do Império e que este ‘‘apoio”se refletiu nos projetos e nas ações do Instituto, como instituição, sendo que seguindo os ideais positivistas o IHGB instigava a leitura de biografias e o estudo dos grandes Homens da Nação.
Seu discurso tinha como missão formar uma interpretação que unisse as várias etnias que existiam no Brasil, sendo que a monografia de Martius consolidou uma perspectiva que prevaleceria por vários séculos, um discurso que nos falaria sobre raças superiores e inferiores.
Referências Bibliográficas
GUIMARÃES, Manoel Luis Lima Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional. In In Revista Estudos Históricos: Caminhos da Historiografia. Rio de Janeiro: Vértice, 1988, v. 1. Disponível http://www.cpdoc.fgv.br/revista/asp/dsp_edicao.asp?cd_edi=5, acesso em 26/02/2008
IGLÉISIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: Capítulos de historiografia brasileira. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.

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