quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

COMUNICADO

Aos Alunos Matriculados nas Disciplinas de Historiografia Brasileira e História do Brasil II
Por conta da realização da I Mostra de Cinema Africano da FAFIDAM os textos que seriam trabalhados nas aulas de quinta-feira (Historiografia Brasileira) e Sexta-feira (História do Brasil II) da semana em curso ficarão para a próxima semana.
São eles: Historiografia Brasileira- a Identidade do Historiador, de Francisco Falcon, disponível na Xerox da Maria ou no site http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/183.pdf.
História do Brasil II: As Independências do Brasil: ponderações teóricas em perspectiva historiográfica, dé Jurandir Malerba; Disponível na Xerox da Maria ou no site http://www.scielo.br/pdf/his/v24n1/a05v24n1.pdf.
Atenciosamente
Prof. Francisco Antonio

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

OH, GILBERTO!

Por Francisco Antonio da Silva[1]
O que fez Gilberto Freire? Talvez, a maior história do Brasil senhorial. Talvez a falta do y não identifique o autor. É o mesmo de Casa-Grande & Senzala. Não é problema ter, ele falado, dos senhores escravocratas. Talvez, qualquer brasileiro inteligente ou, no mínimo, interessado em saber o que foi o Brasil de 1500 até nossos dias deveria ler Gilberto Freyre, de Casa-Grande e Senzala.
Brasileiros, somos nós. Infelizmente, a forma em que deu o municipalismo hoje, tenha atrapalhado especialistas de todas as áreas do conhecimento. Alguns dizem que somos o país do FUTURO. Nós somos o Brasil; mal compreendido por todos (até por nossos maiores gênios).
O que podemos fazer (sem interrogação). Não pergunto aos brasileiros (chega de regionalismos), nós somos um povo universal (chega de eugenia). Ela serve para os senhores de todos os tipos (nessa tipologia não excluo os que se dizem socialistas e comunistas). Infelizmente, foi uma descoberta incrível: o falo serviria como instrumento de domínio. Que descoberta! Infelizmente é preciso reavaliar tal tese: não faz mais sentido tal teoria. O duro é questionar a prática. Eis o dilema da sociedade ocidental.
[1] Francisco Antonio da Silva é graduado em História pela Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, Universidade Estadual do Ceará. Mestre em Sociologia pela UFC.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A NOVA HISTORIA SEGUNDO CAPISTRANO DE ABREU

Fredivânia da C. Nogueira, Graduando em História

Francisco Antonio da Silva, Professor do Curso de História da FAFIDAM

RESUMO: A obra de Capistrano foi de grande importância para a Historiografia brasileira, apesar de não fazer uma grande mudança em relação à obra de Varnhagem, do qual sempre teceu criticas devido sua forma de escrita fria e de grande exaltação portuguesa. Esta constante é notável no capítulo I de sua obra Capítulos de História Colonial que se intitula Antecedentes Indígenas que embora possua esse nome pouco fala dos indígenas.

INTRODUÇÃO

Capistrano de Abreu nasceu na província do Ceara em 1853, mais precisamente em Colominjuba. Ali estudou o primário e depois continuou os estudos em Pernambuco, onde fez curso de inglês e francês, porem não cursou o ensino superior , na Faculdade de Direito de Recife.

Em 1875 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde conseguiu o emprego na Livraria Garnier e depois conquistou uma vaga de professor no Colégio Aquino , onde dava aulas de inglês e francês. Em 1879 fez concurso para integrar o quadro de funcionários da Biblioteca Nacional, onde passa a trabalhar ao mesmo tempo em na imprensa como redator da Gazeta de Noticias, dedicava-se a textos de critica literária e Historia da Literatura.

Em 1883 , concorre a cátedra de Geografia e Historia do Brasil , do Imperial Colégio D. Pedro II, Que já tinha sido ocupada por Gonçalves Dias. Em 1887 ingressou no IHGB, mas continuou lecionando ate 1889, quando houve uma reforma de ensino que acabou com sua cadeira. Daí em diante passou a viver do trabalho jornalístico e da pesquisa histórica.


Capistrano e a Escrita da Nova História

Capistrano era um autodidata que muito se interessava pelas relações entre Historia e Geografia, ate porque ele sempre teve convicção de que a sociedade era marcada por agentes culturais e geográficos. Tal visão e bastante visível na composição dos Capítulos de Historia Colonial , obra escrita mediante um sonho de escrever uma nova Historia do Brasil, uma forma diferente das que já haviam sido feitas, principalmente a obra de Francisco Adolfo Varnhagem, Historia Geral do Brasil , do qual chegou ate a fazer uma reedição .

Para Capistrano Varnhagem tinha um estilo frio e insensível de escrever, apesar da admiração que tinha pelo historiador , não escondia que detestava seu texto, ate porque seguia uma cronologia de fatos oficiais do qual Capistrano sempre foi contra, O caráter oficial de Varnhagem, desejava manter a imagem de excelência do império português , louvando e defendendo a colonização.
Varnhagem , também não seguia a linha de Von Martius , o naturalista alemão que, em 1884 ganhou o concurso realizado pelo IHGB a fim de eleger a maneira de "Como se deve escrever a historia do Brasil" . Von Martius propôs que se levasse em conta a fusão das três raças (branco português, índio e negro africano ) . Varnhagem sempre falou do índio de forma pejorativa e excludente, e dos negros nem ao menos falava.

Capistrano reconhecia a importância da obra de Varnhagem , porém detestava sua forma fria e insensível de falar da vida social, as diferenças regionais e do povo , do qual Capistrano tinha grande preocupação pela ausência em suas obras.

A Visão Indígena de Capistrano

Mesmo com tanta preocupação de Capistrano em relação a escrita de Varnhagem , pela visão social e popular que era lhe era ausente, Capistrano faz em seu primeiro capítulo Antecedentes indígenas , em que o autor demonstra seu amor pela geografia ao descrever os limites territoriais, toda a flora , fauna, relevo e clima do Brasil, detalhando os oceanos que o rodeiam, bacias e rios , principalmente o rio São Francisco que para ele é de grande importância histórica detalhando todo o seu percurso. Capistrano também relata as regiões com freqüência de chuvas e as que passam por períodos de secas. Enfim Capistrano faz uma viagem por todo o território brasileiro ressaltando cada geográfico, deixando apenas as duas ultimas paginas para realmente falar dos índios suas crenças, costumes e rituais.

A principio fala da colaboração que o índio deu para evolução social, da prática da agricultura, da caça e da pesca, assim como mostra a que sexo cada atividade era destinada. Capistrano também fala sobre as guerras existentes entre tribos e as práticas efetuadas após o seu termino para vencedores e vencidos. Comenta também o tipo de habitação, a autoridade dos chefes (pagés), da espiritualidade, da observação da natureza,do artesanato, das lendas , das línguas faladas pelas diversas tribos que aqui podia se encontrar.E por fim discute se influência que o meio geográfico exerceu sobre os índios predispôs ou não a indolência do índio. E afirma:

"Indolente o indígena era , sem dúvida , mas também era capaz de grandes esforços, podia dar muito de si. O principal efeito dos fatores antropogeográficos foi dispensar a cooperação[...]A mesma ausência de cooperação, a mesma incapacidade de ação incorporada e inteligente, limitada apenas pela divisão do trabalho e suas conseqüências, parece terem os indígenas legado a seus sucessores."

Considerações finais

A intenção em destacar um capítulo apenas de tão vasta obra, não se justifica apenas pela facilidade de análise, mas por este ter de certa forma me chamado muito a atenção devido a disparidade entre o titulo e o assunto com que o autor o desenvolve.

Mesmo trazendo grandes inovações Capistrano ainda se remete a práticas que há muito tempo se utilizavam outros autores, como é o caso da descrição da natureza, algo que ele utiliza quase que do começo ao fim do capitulo I da obra que desejava marcar a nova escrita da história do Brasil. Sendo assim seria realmente essa a nova forma de se escrever a história do Brasil.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sobre História

HOBSBAWM, Eric. O Presente como História. In: Sobre História. Trad. Cid Knipel Moreira. – São Paulo: Cia das Letras, 1998. pp. 243-255

Por Francisco Antonio da Silva,
Professor da Disciplina História Contemporânea III,
Curso de História da FAFIDAM/UECE

A preocupação como a história do tempo presente é o tema central deste texto do historiador inglês Eric Hobsbawm. Para ele, a afirmação de “que toda história é história contemporânea disfarçada” (p. 243), contém um pouco de verdade. No entanto, uma coisa é escrever a história da Antiguidade Clássica como um filho do século XX, e “outra coisa bem diferente é escrevermos a história do próprio tempo em que vivemos”.
Para refletir a respeito desta questão Hobsbawm reflete sobre três problemas que envolvem a produção historiográfica sobre o tempo presente: a) o problema da própria data de nascimento do historiador ou o problema das gerações; b) os problemas de como nossa própria perspectiva do passado pode mudar enquanto procedimento histórico; e c) o de como escapar das suposições da época partilhadas pela maioria.
Quanto ao primeiro problema é preciso considerar uma questão central: os marcos históricos e o consenso em torno deles. Isso supõe que uma experiência individual de vida também seja uma experiência coletiva, ou seja, que alguns fatos, embora não vivenciados diretamente, tornam-se referências para se pensar o presente na medida em que possibilita a construção de esquemas de pensamento e comportamento que acabam por servirem de referência para a grande maioria das sociedades humanas. Hobsbawm cita alguns desses marcos, como por exemplo, a Segunda Guerra Mundial, a Grande Depressão de 1929-33 e a Revolução Russa de 1917.
No caso da América Latina, podemos pensar na Revolução Cubana, por exemplo, que até os dias atuais continua irrigando as mentes dos intelectuais e dos políticos, orientando as ações e intervenções dos governos latino-americanos e dos Estados Unidos, que colocam a pequena ilha no centro de uma disputa ideológica.
É importante, como faz Hobsbawm, questionar o caráter destes eventos ou marcos. Faz-se necessário perceber até que ponto há semelhante consenso, em que medida ele é permanente, até que ponto está sujeito a mudança, erosão, transformação, como e por quê?
Os marcos ou o consenso sobre determinados eventos estão relacionados ao próprio tempo de vida do historiador, constituindo “o poleiro particular” a partir do qual o historiador sonda o mundo. Assim, “é inevitável que a experiência pessoal desses tempos modele a maneira como os vemos” e refletimos a respeito (p. 245).
Relacionado a esta questão há o problema das gerações. O poleiro particular de cada geração influencia na apreensão dos marcos históricos e na interpretação dos mesmos, além do mais quando as transformações se dão numa velocidade cada vez mais difícil de serem acompanhadas. Hobsbawm reconhece que a mudança nas gerações traz mudanças tanto na escrita quanto na prática historiográfica.
O segundo problema é uma inversão do primeiro e diz respeito ao efeito da passagem dos anos do século sobre a perspectiva do historiador, independentemente de sua idade. Ou seja, o desenrolar de um determinado período histórico, como o século XX, carrega em si uma certa estrutura ou sentido, que só poderá ser compreendido mais amplamente quando a mesma vem átona, num processo de médio e longo prazo. Para Hobsbawm, os eventos ocorridos entre os anos de 1989 e 1991 possibilitaram uma nova compreensão de todo o período anterior iniciado na década de 1970, ou mesmo nos anos 20 e 30. Isso porque a capacidade de previsão do historiador e outros profissionais como os economistas e cientistas políticos é bem menor do que a do período anterior à Segunda Guerra Mundial. Quando falha a capacidade de predição entra em jogo a capacidade de retrospecção, que possibilita ao historiador refletir melhor a respeito do tempo presente.
O terceiro problema afeta os historiadores de todas as gerações e está menos sujeito à rápida revisão à luz dos acontecimentos históricos: o padrão geral das idéias sobre o nosso tempo, que se fundamenta numa visão religiosa do mundo, na guerra entre o Bem e o Mal, Cristo e Anticristo. Até os anos 80 do século passado a guerra religiosa girou em torno do comunismo e capitalismo. Hoje os conflitos residem entre terroristas e defensores da liberdade e da democracia.
Para Hobsbawm, o “perigo das guerras das guerras religiosas é que continuamos a ver o mundo em termos de jogos de soma zero, de divisões binárias mutuamente incompatíveis, mesmo quando as guerras estão terminadas” (p. 253). Fugir a esta visão maniqueísta é grande desafio do historiador que escreve sobre o seu próprio tempo. Ele deve escapar das suposições partilhadas pela maioria. Para isso o historiador deve ser capaz de questionar as visões de mundo dominantes, que naturalizam a realidade e prendem a atenção do observador.
Enfim, o historiador deve ser capaz de ver o desenrolar dos fatos históricos a médio e longo prazos, aperfeiçoando a sua capacidade de retrospecção, análise e reflexão. Nesta perspectivas é necessário pensarmos mais atentamente as questões centrais que estão postas no século XXI, como por exemplo, a idéia generalizada de que não há alternativas ao capitalismo e a nova “guerra santa”, envolvendo ocidente e oriente, que se traduz na guerra contra o terror e a demonização do inimigo.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A ESCRITA DA HISTÓRIA E A CRÔNICA HISTÓRICA


Jesus Soares Rebouças[i]
Francisco Antonio da Silva, Prof. do Curso de História

Resumo: A tentativa de se produzir história no século XVI ao XVIII foi marcada por uma produção de textos crônicos. Autores diversos narraram o Brasil com suas características de país colonizado, cada um com um olhar marcado pelo seu espaço social. Este artigo vem mostrar um pouco da produção dessa época.

Introdução

A tentativa de entender os passos da escrita da História é no mínimo curiosa e louvável aos olhos do historiador. Qualquer profissional, para exercer bem seu ofício deve no mínimo caminhar pelo histórico de sua profissão. Saber que a história nem sempre foi vista com bons olhos e não considerada desde sempre como ciência, ou seja, algo que teria pouco valor é tão importante quanto aprender a relativizar os comportamentos e as exigências de cada tempo. Como disse Certeau, "Certamente não existem considerações, por mais gerais que sejam, nem leituras, por mais longe que as estamos, capazes de apagar a particularidade do lugar de onde eu falo e do domínio por onde conduzo uma investigação".[ii]

Assim como cada escritor/historiador de hoje dispõe suas análises de um determinado lugar de fala, ligado a percepções escolhidas, cada escritor seja ele historiador ou não, também se colocam sobre determinado contexto a narrá-lo de forma associada a seu espaço social.
Anterior à criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), centro de referência no país da produção historiográfica autores europeus e brasileiros contaram suas experiências através de narrativas diversas, as quais contribuíram fundamentalmente para as pesquisas historiográficas posteriores.
Mesmo não sendo historiadores de formação, assim como não eram os escritores do IHGB, os cronistas contribuíram de forma inegável para se perceber o modo e as tentativas de se escrever história do Brasil do século XVI ao XVIII. Contudo, estes escritos perpassam épocas e sua importância é relevante para todos que desejam ou desejaram escrever parte da história do nosso país.

Uma História de Crônicas
Desde a descoberta das terras brasílicas estas despertaram a curiosidade de muitos escritores de sua época, autores se debruçaram sobre as mesmas e construíram narrativas que serviram para estudos futuros. Os primeiros escritos sobre as terras do Brasil são narrações construídas através de relatos e observações de escritores sobre o novo mundo descoberto. Textos construídos sob críticas etnocêntricas com a clareza de estudiosos acostumados com a vida culta e assustado com o comportamento do Novo Mundo.
Um exemplo de texto clássico relativo ao descobrimento das terras de Santa Cruz (agora Brasil) é a carta de Pero Vás de Caminha. De acordo com Francisco Iglésias esses primeiros escritos que relatam o contexto do Brasil desde o século XVI até o século XVIII são crônicas, narrativas que tinham uma pretensão de ser história, porém não passavam de relatos, textos produzidos através de fontes orais ou outras leituras.
Partes destes autores, cronistas, não conheciam o ambiente que narravam como colocou Iglésias. O primeiro autor que se destacou neste tipo de narrativa foi Pêro Gândavo (1573), o qual escreveu A História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos de Brasil. “Sua obra é pouco historiográfica, parecendo mais um texto de propaganda da nova terra, louvando-lhe as vantagens para atrair imigrantes”.[iii] Apesar de ter se colocado como iniciante na história local, sua obra tem mais crônica do que de história.
Outros escritos que coloco em destaque, citado por Iglésias é o de frei Vicente do Salvador, que escreveu História do Brasil. Segundo o autor sua obra é de uma escrita suave e de leitura agradável, não peca pela retórica puxada marcada na escrita de outros autores de seu tempo. É um exemplo de um conhecimento escritural dentro da tradição oral. “Frei Vicente era homem culto, versado em direito, teologia, história, filosofia e literatura. Tinha amplos estudos, feitos no Brasil e em Portugal”.[iv]
Vale ressaltar seu conceito de história e sua perspectiva de narração. Ao mesmo tempo em que denuncia as falhas da colonização, com uma possível simpatia pelo indígena, questiona o comodismo do colonizador que não ultrapassa o litoral.
Outros autores com suas obras ganham destaque, porém não cabe aqui colocá-los nominalmente e suas obras, isso já tem número considerável no texto do Iglésias, Historiadores do Brasil: capítulos da historiografia brasileira. Afirma o autor que até 1838, os textos destes autores ainda permanecem dentro da perspectiva de crônicas e não com caráter historiográfico. O que não se pode deixar de revelar é a extrema importância dessas obras para o próprio conhecimento da sociedade brasileira no seu período colonial, seja numa versão social primariamente, ou apenas política, ou de ambas.
O século XIX marca um novo parâmetro na escrita, para Iglésias é o período:
“conhecido como o século da história. (...) Revelam-se documentos até ai desconhecidos de todos, ao mesmo tempo que se aperfeiçoa o modo de tratá-los e aproveitá-los. (...) Certas noções adquirem técnicas eficazes, criam uma escola de pesquisa, com historiografia fundada em documentos, comprovação de quanto se afirma e única base para especulações explicativas e interpretativas.[v]

Mas essas novidades no campo da produção histórica no século XIX não é o enfoque deste artigo, aqui ressaltei apenas a produção de crônicas, estas numa tentativa de se produzir história.

Considerações Finais
Apesar de os ditos cronistas não se destacarem no campo historiográfico, seus textos são de grande importância para se perceber a realidade, seja ela parcial ou não, do nosso país nos séculos de seus escritos.
E se não contribuíram detidamente para se estabelecer um modelo historiográfico, uma maneira de se escrever a história do Brasil, no entanto, todas as crônicas vão servir aos escritores posteriores para se estipular traços do Brasil e de seu período, como coloca Igléisas numa fala de Américo Jacobina Lacombe:

Os nomes (...) pertencem a uma fase ultrapassada na historiografia brasileira. Contribuíram valiosamente para a elaboração da história, são hoje utilizados como fontes de informação, mas não suficientes para a compreensão dos fenômenos. São mais objetos da história do que historiadores.[vi]

Desse modo, porque julgar esses homens como não historiadores somente e deixar de lado seu valor, se temos histórias bem considerados no século XIX escritas por homens que academicamente não eram historiadores de formação, assim como os intelectuais do IHGB? A grande questão a ser ressaltada é a contribuição dos homens para com a história, e se em todo caso não produziram textos com caráter de história, fizeram com certeza, e fazem até hoje história.

Notas

[i] Graduando do Curso de História da FAFIDAM, Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, anexo da Universidade Estadual do Ceará – UECE.
[ii] DE CERTEAU, Michel. A operação histórica, p.19.
[iii] IGLÉSIAS, Francisco. Os Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira, p.27.
[iv] IGLÉSIAS, Francisco. Os Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira, p.29.
[v] IGLÉSIAS, Francisco. Os Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira, p.40-41.
[vi] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos da historiografia brasileira, p.54.

Referências
DE CERTEAU, Michel. A Operação Histórica. In LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre (orgs). História: novos problemas. 4ª Ed. Trad.: Theo Santiago. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.

IGLÉSIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.

Os Precursores da Historiografia Brasileira


Luzimar Pinheiro da Costa de Sousa
História, UECE-FAFIDAM
Historiografia Brasileira, III semestre.
Francisco Antonio da Silva
Prof. do Curso de História da FAFIDAM/UECE

Introdução

Francisco Iglésias, procura mostrar como os cronistas do período colonial contribuíram para a historiografia brasileira, se atendo a um determinado período da nossa história, de 1500 a 1838, e de determinadas obras e acontecimentos decorrentes do período. Analisou o papel desempenhado pelos cronistas, criticando-os quando necessário, mas reconhecendo as contribuições que eles deixaram para a produção historiográfica brasileira.

Autores e Obras

Com a chegada dos portugueses ao Brasil, não se inicia somente um período de colonização, o espaço também deu lugar ao aparecimento de obras que o autor analisa procurando identificar nos autores dessas obras aqueles que se elegeram no gênero de historiador. O autor inicia lamentando a perda da obra, História da Província de Santa Cruz, daquele que para ele iniciou a profissão de historiador, o cronista, historiador e escritor português João de Barros, que veio para o Brasil por ter sido contemplado com uma capitania. Como lamenta também a perda de outros escritos, que para o autor, pela falta de censura se intitularam de História do Brasil.
O primeiro a ser referido por ele como historiador no período quinhentista, é o português Pero de Magalhães Gândavo, que escreveu em 1573 e publicou em 1576, a História da Província de Santa Cruz. O autor faz uma severa crítica a Gândavo, por ele não ter conhecido bem o país e sua obra ter sido pouco historiográfica, e que para ele se constituirá mas num texto de propaganda da nova terra, que não tinha características propriamente didáticas, mas sim uma crônica descritiva da natureza e dos homens. Mas outros portugueses escreveram sobre a nova terra, como os jesuítas que merecem destaque por suas obras, por exemplos: Fernão Cardim, que viveu quarenta anos no Brasil e por esse motivo tinha mais conhecimento para escrever um conhecimento sobre o país e Gabriel Soares de Sousa que residiu no país por dezessete anos, português, escreveu notável texto, que permaneceu inédito, só sendo publicado no século XIX, o que lhe restringiu a eficácia. Apesar de não ser uma reconstituição histórica e o autor compará-la com a de Gândavo, pode-se reconhecer hoje que sua obra foi o melhor que se produziu sobre a nova terra, no primeiro século da colonização.
O período quinhentista foi caracterizado por muitas obras, que não tiveram muito labor historiográfico, se tratando de crônicas descritivas referentes a nova terra, das quais eram produzidas pelas concepções de vida de seus autores, que não tiveram a preocupação em construir um conhecimento histórico daquele momento vivido. Podemos até mesmo levar em consideração que se tratavam de portugueses que já tinham sua nação estabelecida, portanto descreviam o espaço que “pertencia” a Portugal.
Já no inicio dos setecentos, pode-se constatar a primeira História do Brasil escrita por um brasileiro, à obra de Frei Vicente do Salvador, concluída em 1627. Um homem erudito que possuía uma gama de conhecimentos , baiano que teve amplos estudos feitos no Brasil e em Portugal. Para o autor Frei Vicente é um marco significativo, além do pioneirismo, foi original na composição de sua obra, desafiando o estilo árido e convencional da época, como também escrevendo de forma leve e agradável, num tom revelador de gosto literário. Seu livro é simples e direto, se contrapondo com a história da época, que em Portugal era tratada com retórica e eloqüência. Seu estilo de narrador pitoresco, talvez tenha sido obstáculo para sua publicação, pois o português Severim de Faria por ter o culto da linguagem pura e solene, não promoveu a publicação da História do Brasil (esta que lhe era dedicada), nem da História da Custódia do Brasil (que afinal se perdeu).
Iglesias faz referência a crítica feita por Capistrano de Abreu que chegou a falar do livro do Frei, intitulando-o de Histórias do Brasil. Mas, para Iglesias o Frei faz descrições da realidade e trata da trajetória dos primeiros cento e vinte e cinco anos, em cinco livros, dos quais muitas partes dos textos se perderam, escrevendo sobre a história de seus dias, em boa prática da historiografia de todos os tempos, atendo-se a sua problemática, que é o descobrimento da terra até a tentativa de conquista da Bahia pelos holandeses, pode-se perceber em sua obra o que foram os governos e suas ações. Algo de grande relevância é o seu conceito de história, que para Frei Vicente: “é de seu ensinamento para que os estudiosos enfrentem as situações: os livros históricos são luz da verdade, vida da memória e mestres da vida”,(IGLESIAS, cit., p.30), escrito no começo de sua obra, é um conceito que mais se parece com um alerta para que os estudiosos reconheçam o verdadeiro sentido de se fazer história e de como esse conhecimento pode ser fundamental para entendermos muitas coisas que estão a nossa volta e fazem parte da nossa vida, da nossa identidade.
Para Iglesias o Frei percebe o momento reconhecendo o essencial do processo: luta entre índios e colonizador, simpatizando com os índios, aponta os defeitos da colonização, considera superficialmente a condição do negro, denuncia a falta de iniciativa do português que só fixa no litoral, sem se embrenhar pelo interior e critica a exploração do país pelos portugueses que não pensam na criação de riquezas para o Brasil. Para o autor já se percebe um “nacionalismo” ainda que tímido no Frei Vicente, mas que já pode ser considerado para a historiografia brasileira.
O Frei Venâncio Willek, biografo do historiador Frei Vicente, apontou em 1975, um dos possíveis motivos para a não publicação do livro do Frei, pois para Venâncio ele seria o primeiro censor do português e o primeiro a fazer crítica ao colonizador.
Iglesias reconhece na fala de Manoel Bonfim, em O Brasil na História, em 1931, a perda na falta de edição imediata da obra de Frei Vicente, pois segundo Manoel Bonfim “serviria de modelo”, para outros autores reconhecer e divulgar os problemas locais e seus propulsores. O autor faz também uma comparação da obra do Frei com as de certos cronistas, como pero Vaz e Gândavo e até mesmo de nossos dias, diferentemente de Frei Vicente, são ufanistas só no sentido de elevar as belezas da terra dentro de suas concepções. A obra permaneceu inédita até 1886, quando Capistrano de Abreu a apresentou no Diário Oficial, com algumas partes ou livros editadas, sendo publicadas integralmente em 1888 pela Biblioteca Nacional em seus anais.
Iglésias reconhece a importância e limitações da obra do Frei, que mesmo não se tratando ainda de uma trajetória brasileira em 1627, é um baiano admirável, revelando um historiador com a lucidez de sua época, da sua terra e da função que se propôs a escrever e escreveu.
No mesmo período surgem outras obras, sem aspectos particulares da colonização, como Diálogo das grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão de 1618, que não era história do Brasil, mas sim fonte notável de poder informativo, que também teve edição limitada.
Discorrendo sobre o século XVIII, o autor nos faz perceber que a situação não alterou fundamentalmente, continuou a elaboração de obras históricas com aspectos particulares, sem abranger o plano global. Obras que remontam genealogias e conquistas, como por exemplo; Memórias da Capitania de São Vicente, de 1797, do Frei paulista Gaspar da Madre de Deus, quando o movimento entradista terminara. Acompanhando seu tempo o autor esclarece a falta de tentativa de estudo geral, já que não se tinha consciência de Brasil, naquela época, mas de áreas brasileiras, o que explica o desconhecimento de uma parte relativa à outra ou outras. O autor critica a restrição da divulgação dessas obras, que atingiam um numero mínimo de leitores.
No mesmo século, escreve-se e publica, a História da América portuguesa, de Sebastião Rocha Pita, em 1730, que abrange o ano de mil e quinhentos até mil e setecentos e vinte e quatro. Rocha Pita era baiano e teve muita importância social e política, versado em línguas, mitologia, história e literatura clássica, usufruiu bastante de seus conhecimentos em seus escritos. Iglésias o compara a seu antecessor frei Vicente que era simples e coloquial, enquanto, Pita era oratório, afetado, solene. Apesar de reconhecer sua capacidade de trabalho, o autor o considera insensato e sua falta de objetividade perdeu o autor. Pita escreveu sobre a trajetória nativa dos primeiros anos até a vinda dos holandeses a sua Bahia, da exterioridade política, falando de seus governos, suas lutas e vitórias, de todo tipo de rebelião, mas seu conservadorismo e reacionarismo não lhe permitiram escrever uma História do Brasil, pois lhe era favorável à situação, escrevendo a Historia da América Portuguesa, fato esse que podemos perceber em muitos outros autores. Assim como reconhece José Honório Rodrigues na primeira parte de sua História da História do Brasil em 1979, que Rocha Pita era partidário da ordem estabelecida, considerando-o antigentio, discriminatório e preconceituoso. Rocha Pita é bastante censurado por outros autores, mas Iglésias reconhece que seu livro tem importância histórica e como empreendimento deve ser citado e estudado. Para o autor podemos ainda considerá-lo como representante da historiografia brasileira oficial conservadora por esse ter sido um modelo bastante cultivado na historiografia brasileira, que se baseia na linha dos governos, na cronologia das administrações, do autoritarismo e negação de qualquer direito popular.
A obra de 1730, vem sendo sempre julgada, o que é natural pois este é o momento da historiografia brasileira. Contudo a obra de Rocha Pita não foi o principal livro do período, mas a de Antonil. André João Antonil era o nome com o qual se apresentou João Antônio Andreoni em Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, em 1711. Andreoni era jesuíta e veio cedo para o Brasil. Andreoni traz um novo viés para historiografia do século XVIII, o econômico. Segundo Iglésias escreve com profundidade e erudição sobre a realidade econômica da época, observando os modos de produção, as tecnologias usadas, as condições de trabalho, as produções, fornecendo números das atividades. Ateve-se também ao problema social e político, era crítico e superou o seu tempo e sua capacidade de análise econômica da época, fez dele um autor de história econômica. O livro de Andreoni causou muito impacto no governo da época que mandou recolher e proibiu o livro, o que causou a perda de alguns exemplares, mesmo assim não impediu que a obra se propagasse e fosse uma das fontes mais usadas de todo o período colonial, tornando-se clássicas, o que confirma a importância e contribuição de seus escritos para o autor.
Outro nome de destaque do Setecentos é ode Cláudio Manoel da Costa, com outro estilo o da poesia, que em 1768 editou em Coimbra seu primeiro livro, intitulado de Obras, e escreveu um poema épico, Vila Rica, datada de 1773, inédito até 1839. Vila Rica é obra literária com fundamento histórico, pois o poema trata da criação da Vila em 1711, e suas fontes são obtidas pelo próprio autor do conhecimento que tinha da região e pelas relações pessoais com outros cultores da história de então.
O século XVIII, é marcado pela distinção de gêneros, me refiro agora aos anais, que foram uma espécie de arrolamento de quanto sucedeu em certa área. Bernardo Pereira de Berredo publica em Lisboa em 1749, um longo e paciente texto, Anais históricos do Estado do Maranhão. Segundo o autor é uma crônica pormenorizada da vida política, religiosa e militar, onde o econômico e o social são de quase todo ausentes, o seja mais uma forma de se divulgar a ordem vigente. È bastante criticada pelo autor, pois sua linguagem é afetada, o texto comprometido pela prolixidade e matéria substanciosa.
Esses anais eram recomendados pela administração portuguesa a suas autoridades no Brasil, era uma maneira da mesma manter-se informada. Os documentos dessa espécie têm muito valor para a história, pelo muito que informam, alguns segundo Iglésias atingem mesmo o nível da historiografia, fazendo a reconstituição e análise de períodos e às vezes até retrospectos históricos.
Para Iglésias o mais notável de todos é o de José João Texeira, Instrução para o povo da capitania de Minas Gerais, que é citado como paradigma. José João escreveu com sabedoria os acontecimentos de seu tempo. Segundo Iglésias sua análise ainda não foi superada. Seu manuscrito faz uma reconstituição histórica preciosa, pela lucidez do autor e pelo cargo ocupado que lhe permitiu conhecimentos do quadro em sua plenitude.
Agora é a vez do século XIX, o século das ciências, que com a constituição sistemática das chamadas disciplinas auxiliares da história renovou e enriqueceu fundamentalmente a elaboração do conhecimento histórico na Europa, dando bases para rigor e êxito na pesquisa e trazendo também técnicas que aprimoram e garantem ao historiador cada vez mais segurança. Revelando novos modos de se recuperar, aproveitar e trabalhar documentos. Podemos perceber que Iglésias ultrapassou o período estipulado por ele, para melhor explicar os rumos que foram tomando a produção do conhecimento histórico e as crises e correntes que permearam nessa produção.É como ele mesmo esclarece essas referências visaram apenas explicar o quadro renovador do século XIX, na historiografia do mundo europeu, ao qual o Brasil se vincula. Isso repercutiu no Brasil, ocorrendo à criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838 e a edição das obras de Francisco Adolfo de Varnhagem, que foram marcos na produção nacional desbancando a produção nativa de antes.
Outra obra que é bastante destacada pelo autor é a de Luis dos Santos Vilhena, Recopilações de Notícias Soteropolitanas e brasílicas, em 20 Cartas, que levou grande parte do século XIX para ser elaborada. Iglésias percebe em Vilhena, o seu censo crítico, a maneira como ele vai descrevendo outras áreas, a capacidade de captar a sociedade em mudança. Apesar de não ser historiográfica ainda é bom material para produzir.O autor foi além de seu tempo ao perceber e analisar o presente vivido e as possíveis mudanças.
Um dos primeiros trabalhos a ser apontado pelo autor como de autêntica historiografia é a monografia de história econômica de Diogo Ribeiro de Vasconcelos, Minas e Quintos do Ouro, que para ele pode ser apresentada como fundadora da historiografia financeira. Diogo escreve sobre o regime tributário colonial e sua obra serve de pesquisa, informação, crítica, teorização desenvolvida e para entender a capitania e o destino do ouro no século XVIII. Sua obra também é merecedora de críticas, pois o autor é condescendente com o poder contributivo e seus feitos.
Para o autor a primeira história do Brasil verdadeiramente monumental , é a do historiador inglês Robert Sothey, que editou em 1810 e 1819 a sua History of Brasil. Robert apontou em sua obra os defeitos da colonização portuguesa, prevendo até mesmo sua emancipação, compreendeu bem o período identificando e apreendendo a trajetória brasileira em seus diversos aspectos e rejeitou as práticas espoliativas. Iglésias não deixa de enaltecer o fator diferenciador do autor, a preocupação estrangeira por nossa terra e a qualidade de seus escritos.
Não podemos deixar de enaltecer grandes autores como Capistrano de Abreu, que se preocupou em recuperar e publicar obras, que até então permaneciam inéditas, como também José Feliciano, Taunay, Alice P. Canabrava, André Mansuy, José Antônio Gonçalves de Melo Neto, Varnhagem, Brás do Amaral,Caio Prado Júnior, entre outros.

Considerações Finais

Segundo Iglésias, o século XIX é marcado por idéias as mais variantes, que foi palco por um lado de obras fragmentadas, escritas sobre aspectos do país, datas ou épocas e eventos, por outro, alguns autores ateve-se à pesquisa e produziu algo de valioso em seus livros. Nos escritos antecedentes as mudanças ocorridas na produção do conhecimento histórico, a maior parte dos autores transcrevia documentos ou narravam certas trajetórias, com uma visão desarticulada do processo natural. Autores com pouca expressão historiográfica, desempenhavam mais o papel de cronistas do que de historiadores.
Em sua análise Iglésias percebe que o período foi caracterizado por crônicas e que nenhuma alcançou a verdadeira historiografia. Para ele alguns se distinguiram como pesquisadores, outros pelo trabalho, abriu caminho para a história regional. Alguns foram pobres até mesmo como cronistas. O autor critica ainda a ausência de um esquema da História do Brasil, mas reconhece a contribuição desses cronistas para a elaboração da historiografia brasileira, que atualmente são usados como fonte de informação, embora não apresente suficiente compreensão dos fatos.
Devemos levar em consideração que nesse período as bases para se elaborar um conhecimento histórico ainda não estavam constituídas como atualmente e que esses cronistas fizeram parte do processo, talvez eles nem tivessem essa preocupação em ser historiadores, já que essa profissão passa por crises até mesmo em nossos dias, mas sim em narrar o que lhes era significativo, suas concepções de vida, contar sua história, deixar sua marca na sociedade.



Referências Bibliográficas

IGLESIAS, Francisco. Historiadores do Brasil, Primeiro Momento:1500-1838. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2000.









.

O IHGB E A PRODUCÃO HISTORIOGRAFICA BRASILEIRA.[1]

Jucelio Regis da Costa[2].
Francisco Antonio da Silva, Professor do Curso de História (FAFIDAM/UECE)


O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi criado em 1838 durante o período Regencial, tomando como referência uma produção que pudesse conter um caráter realmente historiográfico. Francisco Iglesias afirma que a criação do Instituto trouxe o fim para a época que lhe antecedeu, como também revelou o inicio de uma nova fase possibilitando novas idéias e abordagens. O novo modelo de escrever um conhecimento historiográfico que contivessem os rigores exigidos no planejamento trouxe grandes mudanças no estilo e no conteúdo.
Os fundadores do IHGB encontraram um clima favorável para sua implantação, já que no Brasil se encontrava uma pequena porção de intelectuais, que tinha ampla ligação com a coroa e que nesta época de forma mais contextualizada possuíam enraizados o Romantismo, que valorizavam e enaltecia a imagem do índio e da flora.
Para Francisco Iglesias os novos trabalhos produzidos tiveram uma linha de pensamento mais rigorosa, como também a própria valorização da pesquisa. A intencionalidade era tornar o conhecimento já produzido em uma tese que fosse possível ser ensinada e orientada. Mas isso só será possível, quando realmente enfim, este fato se torna preocupante por parte dos intérpretes em escrever a Historia do Brasil.

Um dos resultados mais notáveis da instituição será a Revista, com a publicação dos textos fundamentais do período colonial, como documentos do governo português, memórias e escritos, de toda natureza, de séculos anteriores, notadamente do Setecentos. Assim, o Instituto trabalha com intensidade em seus primeiros decênios, quando realiza esforços na linha do que do que há mais de atualizado na historiografia geral[3].

Embora a criação do Instituto trouxesse novos apontamentos e novo caráter diante da realidade estudada, as obras publicadas pelos intérpretes tiveram grande importância para os intelectuais da época. O trabalho que obteve mais repercussão foi a publicação da Revista. A respeito dela, podemos observar diante da afirmação feita por Francisco Iglesias, que ela representou um grande respaldo no que diz respeito a produção do conhecimento de caráter mais historiográfico. Embora tenha sido um trabalho de conhecimento histórico, sofreu fortemente influência em sua produção. O resultado desse trabalho está inteiramente enquadrado nos moldes do paradigma europeu. Os textos produzidos são todos de caráter político, econômico e oficial. Igualmente aos primeiros textos que eram de natureza narrativa e descritiva voltados para os interesses da Coroa. Com o Instituto, os intérpretes têm uma nova visão com relação as suas fontes de pesquisas, as fontes oficiais ganham grande destaque, embora influenciados pela neutralidade diante dessas fontes por parte dos ensinamentos do Positivismo.
Percebo que o Instituto sofreu importante influencia externa, ou seja, influência das academias européias. Para a comprovação dessa influência, podemos notar a forte ligação carismática dos intérpretes com a coroa presente no Brasil, influenciando na produção historiográfica. Grande parte dos intelectuais pertencentes ao IHGB, eram de origem de famílias ligadas à Coroa.
Cabe mencionar aqui alguns dos famosos intérpretes que contribuíram fortemente com as suas obras. Karl Friederich Philipp Von Martius, de origem alemã, botânico, veio para o Brasil em 1817. Martius tinha preocupação em desenvolver um trabalho que pudesse serviria de modelo para os demais. Buscando a aprimorarão das idéias e argumentos, Martius percebe que a Historia do Brasil deveria ser escrita de modo diferenciado do que já se havia produzido. Através do trecho abaixo, vemos que os intérpretes tinham agora, certa preocupação historiográfica em escrever a historia do Brasil. Preocupados com o rigor que deveriam tomar no posicionamento da produção, os viés interpretativos acabaram ganhando novas abordagens e texturas. Os textos já não possuíam caráter narrativo e descritivo e sim, interpretações da realidade vivida.
É É claro que o modelo de Martius não é perfeito, mas representa avanço para o seu tempo. Fala em uma historiografia filosófica do Brasil, em um “historiador filosófico”(quatro vezes), historiador reflexivo, em historiador pragmático, historia pragmática do pais (duas vezes). Pretende pois reflexão critica, de modo a atender “as exigências da verdadeira historiografia”, como pede; a seu ver, as obras dedicadas até então a historia das províncias (quer significar por certo todos os textos da historia nacional), “se ressentem demais de certo espírito de crônicas”, em justa observação. Vai contribuir para superar esse estado, lançando algumas idéias a serem seguidas[4].


Martius deixou de lado os assuntos referentes a vida política, temas cujos interesses estavam correlacionados com os governos, lutas e vitórias, dando destaque, sobretudo, aos assuntos de cunho étnicos. Além das descrições étnicas presentes em sua produção, ele tornou seu trabalho importantíssimo, devido as considerações críticas e interpretações feitas a cada situação, ao papel exercido por cada personagem incluso na montagem do cenário brasileiro.
Ele fez um estudo importante a respeito do papel desempenhado pelo português, fez devidas interpretações de suas ações e formas de dominação realizadas. Acredita no potencial sistema português em dominar a colônia, como também observa a situação em que se encontrou o índio, sendo submetido e resistindo a dominação. Questiona o papel do negro ao ser incrementado neste cenário dominador. Martius deixa transparecer sua sensibilidade na produção, fazendo interpretações a respeito do cotidiano vivido por cada personagem como também suas mentalidades. Interessante sua rejeição às abordagens dos temas relacionados aos governos para tratar da mentalidade dos grupos étnicos. Para dar ênfase a sua obra, ele faz um desfecho em seu trabalho, afirmando que a história do Brasil deveria ser escrita com elementos totalizados que representassem de forma geral as relações entre o Brasil e Portugal. Diferente das crônicas que tratavam apenas de lugares com especificidades, de uma realidade regional, diante uma dimensão diversificada. Para ele, a história do Brasil deveria conter abordagens generalizadas, já que o país possuía uma diversidade de regiões com peculiaridades próprias.
Um outro intérprete que contribuiu para a produção historiográfica foi Francisco Adolfo de Varnhagen, nascido em Sorocaba, na província de São Paulo, em 1816. Filho de alemão e de uma portuguesa. Pertencia a uma família muito conceituada.
Observando a fala do autor, percebo que nela se encontra uma nova abordagem temática com relação à produção historiográfica do Brasil. Diferente de Von Martius que se deteve em escrever uma historia a respeito dos grupos étnicos, tratando das lutas e resistências que os negros e índios enfrentaram, como também das imposições dos portugueses à esses dois grupos. Varnhagem prefere trabalhar com o gênero literário. O que ele produziu traz resquícios de sua criação artísticos, imaginativos e congênitos do autor em suas pesquisas realizadas.
Decerto, construiu enorme obra, com dezenas de títulos sobre documentos básicos, que editou, nem sempre com o devido rigor; com preocupações literárias, publicou também alguns textos de criação artísticas coligidos em pesquisas, notadamente em poesia. Ele mesmo cultivou a ficção, co uma lenda, um drama e um romance, destituídos de qualidades. Teve pretensões, mas não era particularmente dotado para a arte de escrever: seu texto é destituído de qualquer garra de escritor (coisa comum na historiografia nativa, alias, na qual poucos revelam a qualificação de bom gosto, linguagem e estilo)[5].
Apesar de Varnhagen não ter o domínio das técnicas exigidas para a produção do conhecimento historiográfico, ele produziu obras surpreendentes que serviram como modelos para os futuros literários. Ele pretendia construir uma história do Brasil com uma linguagem que não exigissem métodos tão rigorosos. Uma linguagem que não fosse tão romantizada, mas que tornasse visível sua pretensão.
Antonio Candido, como Joaquim Noberto de Sousa e Silva, considera o autor um benemérito. Todos os historiadores da literatura recorrem a Varnhagen, como se vê em Sílvio Romero, José Veríssimo, Nelson Werneck Sodré, Antonio Candido[6].

Varnhagen, além de erudito, fez criticas aos grupos étnicas que compuseram o cenário colonial de forma explicita e direta. Observando a fala de Francisco Iglesias, no trecho abaixo, notamos que a mentalidade dos intérpretes desse período é ainda conservadora e reacionária. As críticas feitas às etnias acabavam sempre exaltando o europeu os seus sistemas político, econômico e religiosos.
Fala freqüentemente, quanto ao índio, em “ferozes assassinos de nosso primeiro bispo”. Quanto ao negro, em “bárbaro aquilombado”; quanto ao branco, em “ferozes mascates”. Nunca teve simpatia pelo índio. Sua época assistiu à escola literária do indianismo, tão festejada em verso e prosa. Não participou da onda[7].

Pelo fato dele ser um erudito e conservador em suas pesquisas com os documentos oficiais, ele apresenta a realidade vivida pela elite, suas ações, concepções, mentalidade e criticas. Embora sua critica fosse voltada para os grupos étnicos, sem perceber, ele mostrou a face cruel do sistema vigente. Ele faz referência a respeito dos desentendimentos entre as autoridades. Faz menção dos abusos praticados por elas, como por exemplo, corrupção, perseguição e desrespeito à autoridade. Embora ele tenha deixado transparecer esse lado cruel do português, para não perder o seu prestigio como intelectual, ele defende os atos praticados pela coroa. Defende a escravidão do negro, a perseguição ao índio.Tomando esses grupos como elementos de submissão ao português. Ainda que com a instalação do IHBG, trouxesse mudança na forma de se escrever a história do Brasil, nas abordagens, nas temáticas, nas interpretações, não pode pôr fim a mentalidade do português, como também não trouxe mudança quanto aos atos praticados. O IHGB veio ainda tornar mais forte o pensamento da coroa e formular uma pretensa ideologia nacionalista por parte do português.


[1] Artigo apresentado na disciplina Historiografia Brasileira com base nas leituras do livro Historiadores do Brasil, de Francisco Iglesias.
[2] Aluno do 3º. Semestre do Curso de Historia da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM/UECE.
[3] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: UFMG, 2000, p. 62.
[4] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Op. cit. p. 67.
[5] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Op. cit. P. 72
[6] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Op. cit. P. 73.
[7] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Op. cit. P. 82.

O IHGB E A PRODUCÃO HISTORIOGRAFICA BRASILEIRA.[1]

Jucelio Regis da Costa[2].



O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi criado em 1838 durante o período Regencial, tomando como referência uma produção que pudesse conter um caráter realmente historiográfico. Francisco Iglesias afirma que a criação do Instituto trouxe o fim para a época que lhe antecedeu, como também revelou o inicio de uma nova fase possibilitando novas idéias e abordagens. O novo modelo de escrever um conhecimento historiográfico que contivessem os rigores exigidos no planejamento trouxe grandes mudanças no estilo e no conteúdo.
Os fundadores do IHGB encontraram um clima favorável para sua implantação, já que no Brasil se encontrava uma pequena porção de intelectuais, que tinha ampla ligação com a coroa e que nesta época de forma mais contextualizada possuíam enraizados o Romantismo, que valorizavam e enaltecia a imagem do índio e da flora.
Para Francisco Iglesias os novos trabalhos produzidos tiveram uma linha de pensamento mais rigorosa, como também a própria valorização da pesquisa. A intencionalidade era tornar o conhecimento já produzido em uma tese que fosse possível ser ensinada e orientada. Mas isso só será possível, quando realmente enfim, este fato se torna preocupante por parte dos intérpretes em escrever a Historia do Brasil.

Um dos resultados mais notáveis da instituição será a Revista, com a publicação dos textos fundamentais do período colonial, como documentos do governo português, memórias e escritos, de toda natureza, de séculos anteriores, notadamente do Setecentos. Assim, o Instituto trabalha com intensidade em seus primeiros decênios, quando realiza esforços na linha do que do que há mais de atualizado na historiografia geral[3].

Embora a criação do Instituto trouxesse novos apontamentos e novo caráter diante da realidade estudada, as obras publicadas pelos intérpretes tiveram grande importância para os intelectuais da época. O trabalho que obteve mais repercussão foi a publicação da Revista. A respeito dela, podemos observar diante da afirmação feita por Francisco Iglesias, que ela representou um grande respaldo no que diz respeito a produção do conhecimento de caráter mais historiográfico. Embora tenha sido um trabalho de conhecimento histórico, sofreu fortemente influência em sua produção. O resultado desse trabalho está inteiramente enquadrado nos moldes do paradigma europeu. Os textos produzidos são todos de caráter político, econômico e oficial. Igualmente aos primeiros textos que eram de natureza narrativa e descritiva voltados para os interesses da Coroa. Com o Instituto, os intérpretes têm uma nova visão com relação as suas fontes de pesquisas, as fontes oficiais ganham grande destaque, embora influenciados pela neutralidade diante dessas fontes por parte dos ensinamentos do Positivismo.

Percebo que o Instituto sofreu importante influencia externa, ou seja, influência das academias européias. Para a comprovação dessa influência, podemos notar a forte ligação carismática dos intérpretes com a coroa presente no Brasil, influenciando na produção historiográfica. Grande parte dos intelectuais pertencentes ao IHGB, eram de origem de famílias ligadas à Coroa.

Cabe mencionar aqui alguns dos famosos intérpretes que contribuíram fortemente com as suas obras. Karl Friederich Philipp Von Martius, de origem alemã, botânico, veio para o Brasil em 1817. Martius tinha preocupação em desenvolver um trabalho que pudesse serviria de modelo para os demais. Buscando a aprimorarão das idéias e argumentos, Martius percebe que a Historia do Brasil deveria ser escrita de modo diferenciado do que já se havia produzido. Através do trecho abaixo, vemos que os intérpretes tinham agora, certa preocupação historiográfica em escrever a historia do Brasil. Preocupados com o rigor que deveriam tomar no posicionamento da produção, os viés interpretativos acabaram ganhando novas abordagens e texturas. Os textos já não possuíam caráter narrativo e descritivo e sim, interpretações da realidade vivida.

É claro que o modelo de Martius não é perfeito, mas representa avanço para o seu tempo. Fala em uma historiografia filosófica do Brasil, em um “historiador filosófico”(quatro vezes), historiador reflexivo, em historiador pragmático, historia pragmática do pais (duas vezes). Pretende pois reflexão critica, de modo a atender “as exigências da verdadeira historiografia”, como pede; a seu ver, as obras dedicadas até então a historia das províncias (quer significar por certo todos os textos da historia nacional), “se ressentem demais de certo espírito de crônicas”, em justa observação. Vai contribuir para superar esse estado, lançando algumas idéias a serem seguidas[4].


Martius deixou de lado os assuntos referentes a vida política, temas cujos interesses estavam correlacionados com os governos, lutas e vitórias, dando destaque, sobretudo, aos assuntos de cunho étnicos. Além das descrições étnicas presentes em sua produção, ele tornou seu trabalho importantíssimo, devido as considerações críticas e interpretações feitas a cada situação, ao papel exercido por cada personagem incluso na montagem do cenário brasileiro.
Ele fez um estudo importante a respeito do papel desempenhado pelo português, fez devidas interpretações de suas ações e formas de dominação realizadas. Acredita no potencial sistema português em dominar a colônia, como também observa a situação em que se encontrou o índio, sendo submetido e resistindo a dominação. Questiona o papel do negro ao ser incrementado neste cenário dominador. Martius deixa transparecer sua sensibilidade na produção, fazendo interpretações a respeito do cotidiano vivido por cada personagem como também suas mentalidades. Interessante sua rejeição às abordagens dos temas relacionados aos governos para tratar da mentalidade dos grupos étnicos. Para dar ênfase a sua obra, ele faz um desfecho em seu trabalho, afirmando que a história do Brasil deveria ser escrita com elementos totalizados que representassem de forma geral as relações entre o Brasil e Portugal. Diferente das crônicas que tratavam apenas de lugares com especificidades, de uma realidade regional, diante uma dimensão diversificada. Para ele, a história do Brasil deveria conter abordagens generalizadas, já que o país possuía uma diversidade de regiões com peculiaridades próprias.
Um outro intérprete que contribuiu para a produção historiográfica foi Francisco Adolfo de Varnhagen, nascido em Sorocaba, na província de São Paulo, em 1816. Filho de alemão e de uma portuguesa. Pertencia a uma família muito conceituada.
Observando a fala do autor, percebo que nela se encontra uma nova abordagem temática com relação à produção historiográfica do Brasil. Diferente de Von Martius que se deteve em escrever uma historia a respeito dos grupos étnicos, tratando das lutas e resistências que os negros e índios enfrentaram, como também das imposições dos portugueses à esses dois grupos. Varnhagem prefere trabalhar com o gênero literário. O que ele produziu traz resquícios de sua criação artísticos, imaginativos e congênitos do autor em suas pesquisas realizadas.

Decerto, construiu enorme obra, com dezenas de títulos sobre documentos básicos, que editou, nem sempre com o devido rigor; com preocupações literárias, publicou também alguns textos de criação artísticas coligidos em pesquisas, notadamente em poesia. Ele mesmo cultivou a ficção, co uma lenda, um drama e um romance, destituídos de qualidades. Teve pretensões, mas não era particularmente dotado para a arte de escrever: seu texto é destituído de qualquer garra de escritor (coisa comum na historiografia nativa, alias, na qual poucos revelam a qualificação de bom gosto, linguagem e estilo)[5].


Apesar de Varnhagen não ter o domínio das técnicas exigidas para a produção do conhecimento historiográfico, ele produziu obras surpreendentes que serviram como modelos para os futuros literários. Ele pretendia construir uma história do Brasil com uma linguagem que não exigissem métodos tão rigorosos. Uma linguagem que não fosse tão romantizada, mas que tornasse visível sua pretensão.

Antonio Candido, como Joaquim Noberto de Sousa e Silva, considera o autor um benemérito. Todos os historiadores da literatura recorrem a Varnhagen, como se vê em Sílvio Romero, José Veríssimo, Nelson Werneck Sodré, Antonio Candido[6].


Varnhagen, além de erudito, fez criticas aos grupos étnicas que compuseram o cenário colonial de forma explicita e direta. Observando a fala de Francisco Iglesias, no trecho abaixo, notamos que a mentalidade dos intérpretes desse período é ainda conservadora e reacionária. As críticas feitas às etnias acabavam sempre exaltando o europeu os seus sistemas político, econômico e religiosos.

Fala freqüentemente, quanto ao índio, em “ferozes assassinos de nosso primeiro bispo”. Quanto ao negro, em “bárbaro aquilombado”; quanto ao branco, em “ferozes mascates”. Nunca teve simpatia pelo índio. Sua época assistiu à escola literária do indianismo, tão festejada em verso e prosa. Não participou da onda[7].


Pelo fato dele ser um erudito e conservador em suas pesquisas com os documentos oficiais, ele apresenta a realidade vivida pela elite, suas ações, concepções, mentalidade e criticas. Embora sua critica fosse voltada para os grupos étnicos, sem perceber, ele mostrou a face cruel do sistema vigente. Ele faz referência a respeito dos desentendimentos entre as autoridades. Faz menção dos abusos praticados por elas, como por exemplo, corrupção, perseguição e desrespeito à autoridade. Embora ele tenha deixado transparecer esse lado cruel do português, para não perder o seu prestigio como intelectual, ele defende os atos praticados pela coroa. Defende a escravidão do negro, a perseguição ao índio.Tomando esses grupos como elementos de submissão ao português. Ainda que com a instalação do IHBG, trouxesse mudança na forma de se escrever a história do Brasil, nas abordagens, nas temáticas, nas interpretações, não pode pôr fim a mentalidade do português, como também não trouxe mudança quanto aos atos praticados. O IHGB veio ainda tornar mais forte o pensamento da coroa e formular uma pretensa ideologia nacionalista por parte do português.



[1] Artigo apresentado na disciplina Historiografia Brasileira com base nas leituras do livro Historiadores do Brasil, de Francisco Iglesias.
[2] Aluno do 3º. Semestre do Curso de Historia da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM/UECE.
[3] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: UFMG, 2000, p. 62.
[4] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Op. cit. p. 67.
[5] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Op. cit. P. 72
[6] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Op. cit. P. 73.
[7] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Op. cit. P. 82.

Breve análise dos relatos na História do Brasil no período de1500-1831

Shyandra Rachel Maia Cavalcante,
graduanda em História, FAFIDAM-UECE
Disciplina Historiografia Brasileira
Prof. Ms. Francisco Antonio da Silva


Resumo

O artigo tem como propósito a apresentação e discussão sobre algumas obras que apesar de não serem considerados trabalhos com caráter histórico, tanto no que se refere à análise interpretativa dos fatos quanto ao próprio rigor historiográfico são importantes, pois, trazem em si elementos que possibilitam aos historiadores a coleta de dados que propiciam uma análise da sociedade e seus componentes. São textos descritivos cuja função principal é descrever nossa terra e nosso povo.
Palavras-chave: descrição, História e Historiografia Brasileira.


Este texto objetiva uma pequena compreensão sobre o que foi produzido “historicamente” no período que se sucede entre 1500-1838, tomando como ponto de partida o início da colonização no Brasil até o período que data a instalação do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) em 1838.
Para tanto partirei da observação de algumas obras demonstrando sua importância não enquanto trabalho histórico propriamente dito, pois vale aqui lembrar que não havia a intenção por parte dos autores em o assim realizarem, aliás, é bom atentarmos para um importante fato a História como ciência ainda se institucionaliza somente a partir do século XIX, com a escola dita positivista.
Além de realizar um breve panorama sobre algumas obras e sua importância para o início de uma “historiografia” no Brasil, utilizar-me-ei também do texto do Pe Manoel da Nóbrega a fim de estabelecer uma correspondência com o período, haja vista que o documento exemplifica a conjuntura temporal na qual fora produzido.
Antes de começar a discorrer um pouco sobre a obra do Pe. Manoel da Nóbrega é preciso primeiramente elevar nosso olhar para a nossa História e como ela vem se desenrolando ao longo do tempo em nosso país.
As primeiras obras e documentos que conhecemos a respeito de nossa origem são frutos de relatos de viajantes cronistas que tinham a função de relatar nossa terra e nossa gente para Portugal, estudiosos, funcionários da Coroa. Pertenciam a uma elite dominante para a qual escreviam, contudo podemos perceber em exceções que alguns autores em seus textos faziam uma crítica a esta classe dominante. O que não quero aqui afirmar que este seria um defensor dos índios e de nossa terra.
Em sua narrativa simples e leve frei Vicente do Salvador, percebeu em realidade vivenciada a forma errônea sobre a qual a Coroa regia sua colônia, tanto no que se refere ao tratamento do indígena, quanto na falta de iniciativa de adentrar no território de modo mais efetivo, a fim de obter um maior conhecimento sobre a terra e as riquezas que ela possuía. Sendo assim, assume um papel pioneiro em seu tempo ao fazer uma crítica ao colonizador. [1] É Francisco Iglesias que pode nos falar um pouco mais sobre esta crítica.

“Aponta os defeitos da colonização, no mau trato aos nativos, na subjugação dos brasileiros, nas práticas administrativas desonestas como furto, o abuso de poder. O negro não era ainda presença marcante, mas já é considerado pelo o autor.”

O que demonstra que o autor possui senso de realidade e principalmente percepção de acontecimentos ao seu redor. Embora esta obra seja considerada um marco para seu tempo sua relevância se daria mais pelas riquezas de detalhes com que escreve e pelo o acesso a uma vasta documentação. Não sendo, portanto um trabalho que prime pela análise e interpretação dos acontecimentos. O que na realidade isto não é cobrado destes autores por que neste período na América portuguesa ainda não existia a preocupação com uma historiografia coerente, parecida com a que temos hoje, pois na verdade a própria História ainda não estava instituída enquanto ciência o que viria ocorrer somente século XIX, sob a influência de autores como RanK e a escola dita positivista.
Como o autor Francisco Iglesias escreveu o século XIX é o século da História como também das demais ciências sociais. E neste momento disciplinas ditas auxiliares da História como paleografia, arqueologia, por exemplo, ajudarão a compor um modelo sistemático para abordarem os documentos. Vale aqui ressaltar que o modelo utilizado ou escolhido para tratar os assuntos da História, valorizava principalmente o fato e pretendia evitar ao máximo que a opinião do autor fosse explicitada na obra. O que a meu ver, essa forma assemelha-se à maneira descritiva na qual era produzida História e de certo modo impunha rigor e método que outrora não se tinha. E no caso brasileiro embora de forma lenta, começa-se a romper com este modelo puro e simples de descrção.
O texto Informação das partes do Brasil, de Pe. Manoel da Nóbrega é uma obra de caráter descritivo, onde no seu interior contém uma riquezas de detalhes sobre os habitantes das terras brasileiras. Prima por um discurso eurocentrista, valorizando a cultura européia em detrimento da cultura local, inferiorizando enquanto crença, valores morais e traços civilizadores. [2] Segundo o trecho extraído da carta do Padre Manoel da Nóbrega, podemos observar o discurso dominante do Colonizador a respeito da cultura nativa.

“... não cuidem de trabalhar, nem vão à roça, que o mantimento por si próprio crescerá, e que nunca lhes faltará o que comer e que por si virá a casa, e que as aguilhadas se irão ao mato caçar para seu senhor...”.

O que podemos concluir neste artigo, não é certo julgarmos estes escritos tomando como base nossos critérios de análises, tem que se considerar o tipo de discurso presente na época e que eles foram importantes para seu tempo enquanto transmissores de um determinado conhecimento e para nós historiadores nos oferecem dados importantes para compreender a sociedade da época e apreender pertinências que até os dias atuais permanece em nosso âmbito social.

[1] Ver: Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia p30. Iglesias Francisco – Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.

[2] Ver: Carta de Pe Manoel da Nóbrega, contida na disciplina Brasil I do curso de Historia/FAFIDAM.

Segredos Econômicos que Precisam ser Calados pela Coroa Portuguesa

Germano Jesus Maia Bezerra,
Graduando em História, FAFIDAM UECE
Historiografia Brasileira
Prof. Ms. Francisco Antonio da Silva
Pretendo abordar aqui nesse breve texto os motivos que fizeram com que a coroa portuguesa proibisse e impedisse a circulação da obra de um dos grandes autores brasileiros do período Setecentista. Esse autor era ninguém mais, ninguém menos, que João Antônio Andreoni, que se apresentava pelo nome de André João Antonil, quando escreveu sua obra que se chamava, Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, em 1711. Esse texto se tornou o maior foco de minha pesquisa, sendo que, é a partir de seu conteúdo que começamos a entender as preocupações da coroa em proibi-lo e até mesmo em caçá-lo, para que seu conteúdo não se espalhasse em outras regiões.
Mas qual o verdadeiro conteúdo dessa obra de Andreoni? Baseado em que, Andreoni escreveu essa obra? Porque o conteúdo dessa obra incomoda tanto a coroa portuguesa?
Essas perguntas e outras mais, latejam em minha cabeça ao deparar com esse conteúdo historiográfico, e é no decorrer desse trabalho que, na condição de estudante de história, tentarei responde-las e deixá-las bem claras para que você leitor, possa ter uma compreensão maior sobre nossa historiografia.
Para falar da obra de Antonil, é preciso falar dele como pessoa para que possamos ter um entendimento maior sobre sua obra. Antonil foi um italiano que entrou para a Companhia de Jesus em Roma aos dezoito anos de idade, mas além de se apegar ao clero logo cedo, ele também mostrou interesses em estudar Direito Civil, passando a estudar tal conteúdo na Universidade de Perúsia, chegando até mesmo a ser mestre de noviços e futuramente Reitor no Colégio de S. Salvador. Ele chegou ao Brasil em 1681 aos 32 anos e ao se alojar na Bahia logo se mostrou interessado em estudar e compreender os atores centrais da nossa economia e da nossa vida colonial: senhores e escravos.
A escrita de Antonil é baseada em uma experiência de 25 anos em solo brasileiro, onde essa experiência pode ser dividida em dois momentos distintos. No primeiro momento, Antonil se mostra muito detalhista ao descrever o cotidiano de um engenho e todos os fatores necessários para que esse engenho funcione. Ele descreveu o número de escravos utilizados, a quantidade de açúcar produzido por tal número de escravos, a forma de como esse açúcar era produzido, ou seja, ele foi muito detalhista em seu trabalho de descrição sobre o engenho, chegando até mesmo a concretizar em números e estatísticas as suas observações. O tempo de produção, a forma de produzir e a própria produção eram características bastante marcantes no primeiro momento dessa obra de Antonil. Ele demonstra uma grande preocupação com a rentabilidade da produção açucareira e tenta compreender o processo de mudanças nas atividades econômicas ocorridas com a descoberta das minas e com os caminhos abertos em função da rota do gado para o Nordeste. No segundo momento de sua obra, Antonil descreve outros fatores econômicos do Brasil, como a produção de tabaco, a mineração e a criação de gado. Sobre a mineração ele contou apenas com informações de terceiros, mas sobre a criação de gado ele foi mais amplo ao abordar tal assunto, pois ele abordou a tecnologia utilizada, as condições de trabalho e a própria produção, fornecendo assim números e estatísticas dessa atividade.
Não há duvidas de que a obra de Antonil está marcada pela preocupação que ele tinha em mostrar os detalhes das características econômicas de sua época. Mas o que não devemos esquecer é que, além de ser um detalhista, Antonil era também um grande critico de sua realidade e podemos perceber esse ar de critico em um dos trechos de sua obra, quando ele comenta os danos causados no Brasil pela descoberta das Minas Gerais:
"Convidou a fama das Minas tão abundantes do Brasil homens de toda casta e de todas as partes, uns de cabedal, outros vadios. Aos de cabedal, que tiraram muita quantidade dele nas catas, foi causa de se haverem com altivez e arrogância, de andarem sempre acompanhados de tropas de espingardeiros de animo pronto para executarem qualquer violência, e tomar sem temor algum da justiça, grandes e estrondosas vinganças. Convidou-os o ouro a jogar largamente e gastar em superfluidades quantias extraordinárias sem reparo, comprando, por exemplo, um negro trombeteiro por mil cruzados (400 mil réis, ou seja, quatro vezes mais o que valia um escravo) e uma mulata de mau trato por dobrado preço, para multiplicar com ela contínuos e escandalosos pecados. Os vadios que vão às Minas tirar ouro não dos ribeiros mas dos canudos em que o ajuntam e guardam os que trabalham nas catas, usaram de traições lamentáveis e de mortes mais que cruéis, ficando estes crimes sem castigo, porque nas Minas a justiça humana não teve ainda tribunal nem o respeito de que em outras partes goza, aonde há mineiros de suposição, assistidos de numeroso e seguido presídio; e só agora poderá esperar-se algum remédio, indo lá governar governado e mineiros." (supostamente uma alusão ao novo governador da Minas, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho)
"E até os Bispos e prelados de algumas religiões sentem sumamente o não se fazer conta das censuras para reduzir os seus bispados e conventos não poucos clérigos e religiosos que escandalosamente por lá andam ou apóstatas ou fugitivos. O irem também às Minas os melhores gêneros de tudo o que se pode desejar foi causa que crescessem de tal sorte os preços de tudo o que se vende, que os senhores de engenho e os lavradores se achem grandemente empenhados, e que por falta de negros não possam tratar do açúcar nem do tabaco como faziam folgadamente nos tempos passados que eram as verdadeiras Minas do Brasil e de Portugal. E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moedas para os reinos estranhos, e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões, arrecadas e outros brincos, dos quais se vêem hoje carregadas as mulatas de mau viver e as negras muito mais do que as senhoras. Nem há pessoa prudente que não confesse haver Deus permitido que se descubra nas Minas tanto ouro para castigar com ele ao Brasil, como está castigando, no mesmo tempo tão abundante de guerras, aos Europeus com o ferro."

Percebemos até aqui nesse breve texto que, sem duvidas Antonil escreveu sua obra assumindo caracteristicas criticas e detalhistas inrreconheciveis em qualquer outro autor de sua época. Mas se a obra de Antonil foi considerada tão boa assim, eu pergunto para você leitor: Porque o conteúdo dessa obra incomoda tanto a coroa portuguesa? E por qual motivo a coroa proibiu e até caçou a obra de Antonil?
As respostas para essas perguntas não ficam muito longe da nossa compreensão, quando nós deparamos com o conteúdo dessa obra. Tal conteúdo - como já foi dito nesse texto- aborda a economia brasileira de um modo bastante critico e descritivo, deixando explicito em números e estatísticas as relações do quadro econômico brasileiro. Por sua vez, a coroa portuguesa era a grande controladora da nossa economia. Era ela que mandava e desmandava nas ações econômicas aqui ocorridas, sendo que, a economia brasileira tinha como principal objetivo, proporcionar lucros cada vez maiores para a coroa. Dessa forma tudo iria caminhando bem, mas com a publicação da obra de Antonil esse quadro econômico vantajoso para a coroa estaria ameaçado.
A obra de Antonil seria vista pela coroa portuguesa, como uma espécie de propaganda de um quadro econômico, que por sua vez, proporcionaria uma grande margem de lucro para quem se aventurasse nessa atividade econômica. Ao expor sua obra ao publico, Antonil –segundo a coroa- estaria causando riscos aos interesses lusitanos, pois logo surgiriam concorrentes para disputarem a hegemonia sobre nossa economia. Vendo seus interesses econômicos ameaçados pela publicação de Antonil, a coroa resolve cortar o mal pela raiz, fazendo com que a obra parasse de circular e até mesmo fosse caçada pelos órgãos competentes. De fato a obra foi proibida e caçada, mas ficaram ainda poucos exemplares que hoje são unas verdadeiras raridades bibliográficas.
Não há duvidas de que o trabalho de Antonil possui uma grande importância para a nossa historiografia. Sua importância é vista não apenas por se tratar de uma obra explicativa e critica sobre as relações econômicas, mas também por poder assumir o papel de fonte histórica em nosso trabalho historiográfico.
IGLÉISIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: Capítulos de historiografia brasileira. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.

MOTA, Lourenço Dantas (Org.). Introdução ao Brasil. Um Banque no Trópico, 1. - 3ª ed. – São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001.

A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA NO SÉCULO XIX

Simone Rodrigues Gondim[1]
Francisco Antonio da Silva, Professor do Curso de História (FAFIDAM/UECE)


RESUMO
O artigo trata da produção historiográfica produzida no Brasil no século XIX, sob a influência do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro). O Instituto é criado em 1838 com o objetivo de construir uma identidade nacional para atuar tanto externa como internamente. As produções são influenciadas pelos parâmetros de trabalho fornecidos pelo IHP (Institut Historique de Paris ) e pelo caráter conservador do IHGB que está ligado as autoridades, principalmente D. Pedro II. A revista do Instituto também será um meio de difundir o projeto nacional de construir um perfil para a nação brasileira através da produção da História do Brasil.
Palavras – Chave: IHGB, produção historiográfica, projeto nacional, identidade nacional.

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O século XIX é considerado o século das ciências, pois foi durante esse período que todas as áreas do conhecimento ganharam status de ciência, inclusive a História. A partir de então, o discurso historiográfico ganha foros de cientificidade onde passa a seguir o rigor exigido pelo meio acadêmico. O historiador ganha o título de pesquisador igualando-se aos demais na produção científica.
Neste momento tenta-se reunir o maior número possível de documentos, tanto antigos como atuais, para produzir o conhecimento histórico com valor científico. A História precisa ser vista como ciência. Por isso os historiadores produziram obras com o máximo de imparcialidade sem expor qualquer opinião sobre o fato abordado. E influenciados pela escola histórica alemã[2], essas produções apresentam-se ao estilo da monumenta germinae historica, na tentativa de narrar o passado tal como ele foi, a partir dos documentos que é a única comprovação para o seu discurso.
Esse processo ocorrido na Europa é acompanhado pelo Brasil com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) em l838. Este é o lugar de onde partiu a produção historiográfica caracterizada pela marca elitista, herdeira da tradição iluminista. O discurso produzido pelo Instituto contribuiu na construção da Historiografia Brasileira e das visões e interpretações à cerca da discussão da questão nacional.
O Instituto é criado na incumbência de cumprir a ardorosa tarefa de delinear um perfil para a Nação brasileira. As produções historiográficas tinham uma função pedagógica de orientar as novas gerações para o patriotismo, baseando-se no modelo dos antepassados, utilizando assim o conceito de história como mestra da vida. Faziam produções biográficas com o intuito de fornecer exemplos e construir heróis nacionais. Assim definia a Nação brasileira nos moldes organizadores da vida social do século XIX, dando-lhes uma identidade própria capaz de atuar tanto externa como internamente.
Segundo Manuel Luis Salgado Guimarães, ao definir a Nação brasileira enquanto representante da idéia de civilização do Novo Mundo, estava também definindo aqueles que internamente ficariam excluídos deste projeto por não serem portadores da noção de civilização, no caso o índio e o negro. Isso devido ao estilo conservador do IHGB, ligado as autoridades, das quais recebe favores, especialmente de Dom Pedro II. Portanto, o seu conceito de Nação se restringirá aos brancos sendo carregado de imagens depreciativas do “outro”, cujo poder de reprodução e ação extrapola o momento histórico de sua construção. Externamente essa discussão sobre o “outro” desta Nação se dará a partir de critérios políticos das diferenças, ou seja, o Brasil terá como inimigo as republicas latino – americanas caracterizando a forma republicana de governo como sendo uma barbárie. Ora se o Brasil tinha proclamado sua independência tornando-se um império governado por portugueses, eles não poderiam exaltar as repúblicas americanas, pois estariam se contradizendo e colocando-se contra a continuidade de Portugal, não sendo este os seus objetivos.
Devido à influência do Institut Historique de Paris os nossos historiadores utilizaram a concepção de historia herdeira do Iluminismo, que trata a história enquanto processo linear marcado pela noção de progresso. Por isso, utilizaram outras áreas do conhecimento como a Arqueologia, a Lingüística e a Etnografia para abordar os índios em suas obras colocando-os em posição inferior. Utilizando argumentações científicas para comprovar a sua inferioridade em relação aos brancos e que a civilização só viria com a presença branca no continente.
A tarefa pretendida pelo IHGB refletia-se em suas produções. Todos produziam trabalhos nessa linha influenciada pelo IHP (Institut Historique de Paris) que fornecia os parâmetros de trabalhos historiográficos ao IHGB. Não só no projeto ideológico, mas também político. Assim construía o ideal de nação não só internamente para que houvesse uma identificação nacional do povo com a monarquia, mas também externamente para colocar o Brasil em pé de igualdade com as outras Nações. O objetivo era escrever a história do Brasil para construir uma identidade nacional que era legitimado pela elite letrada imperial contribuindo para uma progressiva difusão e homogeneização do projeto nacional.
Um outro meio utilizado para difundir esse projeto foi à revista publicada pelo IHGB, que é editada desde a sua fundação. Em suas publicações ela trazia documentos básicos, atividades da instituição, divulgação das cerimônias e atos comemorativos como também a publicação das produções dos historiadores brasileiros. Ela é a expressão mais nítida da linha de trabalho seguida pelo IHGB. Segundo Manuel Guimarães havia três temas recorrentes na publicação da revista: a problemática indígena, as viagens e explorações científicas e o debate da história regional.
A problemática indígena era um tema que se fazia mais presente nos debates que tratavam da tarefa de construção da Nação. A questão era qual seria o lugar das populações indígenas no projeto nacional. Já que o projeto envolvia o processo de integração física do território e a discussão relativa às origens da Nação. Essa discussão levou alguns historiadores a definir um saber sobre essas populações para que se tornasse memória para se fixar e depois transmitir. Já havia um intenso debate entre a historia e a literatura a cerca do índio ser considerado o representante da nacionalidade brasileira. A literatura já o havia tomado como representante nacional, mas a história via problemas em adotar essa questão. Não condizia com o discurso da elite que predominava no Instituto.
Uma solução apontada foi a criação de um projeto indigenista para o Estado. O que se pretendia fazer era uma nova catequese onde os indígenas teriam que ter contato direto com os brancos, educar seus filhos nos princípios da educação branca e incentivar a miscigenação como forma de branquear a população indígena. Seguindo assim o modelo de usar experiências passadas para solução de problemas atuais. Alguns historiadores vão explicitar aspectos parecidos como a necessidade de integração dos grupos indígenas no projeto nacional da construção da Nação; defesa do comércio e da educação como um meio de contato com os índios, ou seja, utilizá-los como mão-de-obra em substituição aos negros; destinar um papel ao Estado para que com a ajuda de ordens religiosas possa solucionar essa questão sem deixar de explicitar seu espaço de controle sobre o desenvolvimento do trabalho.
O segundo tema abordado tanto pela revista como pelas publicações historiográficas é sobre as viagens e explorações do território brasileiro. A abordagem é feita em cima das questões de fronteira e limites, e riquezas naturais do Brasil. Trata-se de descrever geograficamente o país. Conhecer o território nos seus mínimos detalhes para fazer um levantamento do potencial de cada região avaliando as possibilidades de integração econômica entre elas. Todas as regiões são consideradas importantes, mas existiu uma preocupação com as regiões de fronteira devido a necessidade de integração dessas regiões com o poder do Estado e também devido aos conflitos que existiam desde o período colonial. Com esse levantamento tinha-se a produção da história de cada região constituindo um dos temas abordados pela produção historiográfica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscar a identidade física da Nação observando as possibilidades de exploração econômica do território e a integração das regiões com o Estado são os objetivos pretendidos para ajudar na construção da historia do Brasil. Essa historia servia para que o poder monárquico tivesse conhecimento total do seu império em todos os seus aspectos: físicos, políticos, econômicos, culturais e ideológicos. As produções do IHGB estavam a serviço do império, já que Dom Pedro II era seu maior bem feitor.

[1] Aluna do S-VII do Curso de Historia da FAFIDAM – Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos da UECE – Universidade Estadual do Ceará – Limoeiro do Norte.
[2] Em 1819 foi constituída a Sociedade para o Conhecimento da Antiga Historia Alemã, em Frankfurt, que teria como objetivo editar todas as antigas fontes da historia da Alemanha.

BIBLIOGRAFIA

GUIMARÂES, Manoel Luis Lima Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e projeto de uma história nacional. Disponível em www. cpdoc. fgv. Br. revista / asp / dsp – edição. asp? cd – edi= 5, acesso em 26/02/2008.
IGLÉSIAS, Francisco. Os Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.

OS CRONISTAS BRASILEIROS

Simone Rodrigues Gondim[1]
Francisco Antonio da Silva, Prof. da Disciplina Historiografia Brasileira

RESUMO
O presente artigo tem como temática a 1ª fase da Historiografia Brasileira (1500 – 1838). Analiso de forma geral as crônicas históricas produzidas pelos intelectuais da época que escreveram a História do Brasil. As abordagens estão direcionadas para as obras de Frei Vicente do Salvador e André João Antonil. As discussões feitas são realizadas a partir dos trabalhos de Dora Shellarde Corrêa e Francisco Iglesias que não consideram as crônicas como produções historiográficas, mas como descrições que serviram de fontes para outros historiadores.
Palavras – Chave: Crônica Histórica, Historiografia Brasileira, História do Brasil, Produção Historiográfica.
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Contar a História do Brasil hoje não parece ser uma tarefa difícil devido aos inúmeros trabalhos que existem e os que ainda estão por vir. Mas escrever sua história nos séculos XVI e XVII não era tarefa nada fácil, pois era o período da colonização e o território mal tinha sido explorado.
Alguns intelectuais da época, tanto portugueses quanto brasileiros, interessaram-se em escrever a História do Brasil desde a chegada dos portugueses. O trabalho que eles produziram é conhecido por crônica histórica já que eram feitos a partir do que se ouvia falar e também das viagens que faziam pela Colônia e de seus próprios conhecimentos. Essa produção histórica feita nesse período, apesar de parecer mais com “histórias do que história do Brasil” como disse Capistrano de Abreu, são os primeiros registros feitos que serviram de fonte para os futuros historiadores.
Esses cronistas observaram a terra e seus habitantes a partir de ângulos físicos diversos. Cada um a seu modo, relatou o que viu e sentiu. Alguns deles tiveram contato com os índios, outros ficaram impressionados com a beleza natural, outros, porém, que não tinham visto nada do que escreveram em suas obras. Portanto, as descrições desses cronistas não seguem o mesmo modelo e as informações contidas em seus textos são questionáveis em determinadas situações.
Segundo a historiadora Dora Shellarde Corrêa[2], devemos levar em conta que os cronistas descreveram o país a partir de dados locais concretos e que tinham um fim especifico a ser alcançado com a publicação de seus relatos. Tais situações, aliada a sua visão de mundo, contribuíram para a produção dos textos.
Uma característica criticada pela referida historiadora, é que os relatos omitem sobre a paisagem construída pelos índios. Mas antes, é preciso analisar a situação do narrador, se é alguém que está descrevendo para ele, se esteve realmente nestes locais, ou os viu de longe. Ela lembra também, que todos os relatos foram a posteriori. Resultam de memória sendo às vezes cópias de outros cronistas.
Outro historiador que estudou a história da Historiografia Brasileira foi Francisco Iglesias. Em seu livro Historiadores do Brasil ele fala sobre os cronistas dos séculos XVI e XVII. Entre as obras por ele destacada está a de Frei Vicente de Salvador, por ser a primeira História do Brasil escrita por um brasileiro em meados do século XVII.
Segundo Francisco Iglesias, Frei Vicente é um marco significativo não só por seu pioneirismo, mas pela composição da obra, marcada pelo significado do que diz e pela forma leve e agradável. Ele utiliza uma escrita literária diferente da escrita convencional de sua época. Sua obra teve como base os textos de Antonio Salema, que ocupou importante cargo na administração portuguesa. Seu livro é simples, mas contempla todos os setores da sociedade de forma humorada e até certo ponto, ingênua.
As descrições feitas por ele são da realidade e tratam da trajetória dos primeiros cento e vinte anos do Brasil indo do descobrimento até a tentativa de conquista da Bahia pelos holandeses. O que mais chama a atenção em sua escrita é o fato de ele relatar as lutas entre índios e colonizadores, criticando certas atitudes dos portugueses. Somente pela postura de olhar os dois lados da historia e ter uma visão critica perante as atitudes dos colonizadores já o coloca em nível superior aos demais autores. Mesmo sendo brasileiro, a sua postura é no mínimo corajosa. Isso numa época em todos partilhavam do discurso de que os portugueses estavam trazendo a civilização a qual faria bem aos nativos. Mesmo pertencendo a Igreja Católica, que era aliada do Estado nessa empreitada da exploração do Brasil, ele não deixava de perceber os defeitos da colonização, criticando os maus tratos aos nativos, a subjugação dos brasileiros, a desonestidade para com a administração e o abuso de poder.
Suas idéias são vistas por Francisco Iglesias como um nacionalismo tímido, mal formado e pouco explicito, mas real. Sem muita euforia com relação ao pequeno nacionalismo de Frei Vicente o certo é que ele representa o grupo de pessoas que discordava de algumas das atitudes portuguesas com relação ao Brasil. Para a época e o meio em que vivia a sua obra estava à frente do seu tempo, consciente do tempo e de sua terra. Foi por ser uma obra critica que esta não foi publicada ficando inédita até 1886, quando Capistrano de Abreu a apresentou no Diário Oficial.
André João Antonil é outro expoente da safra de cronistas históricos que produziu uma importante e diferenciadora obra. O livro Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas foi publicado em 1711 depois de o autor ter passado vinte e cinco anos de experiência em solo brasileiro, informando-se com um famoso mestre de açúcar.
Antonil procurou deixar registrado tudo o que aprendeu sobre os engenhos, refazendo passo a passo o processo de fabricação de açúcar. Seu verdadeiro nome é João Antonio Andreoni nascido na Itália, era jesuíta e veio para o Brasil aos trinta e dois anos de idade. Seu objetivo era avaliar detalhadamente os homens que aqui viviam e as riquezas que o Brasil poderia oferecer a Portugal, preocupando-se em compreender senhores e escravos.
A partir de suas observações ele escreveu sobre a realidade brasileira descrevendo principalmente a economia, mas não esqueceu o aspecto social. Na abordagem econômica ele fala da produção do açúcar, do tabaco, da mineração e da criação de gado, descrevendo a tecnologia usada, as condições de trabalho com observações técnicas. O aspecto social foi retratado nas condições em que os escravos trabalhavam como também os pequenos problemas do cotidiano percebendo as ambigüidades dos homens que ora atuam de forma equilibrada ou cruel, justa ou injusta, verdadeira ou hipócrita. Sua melhor qualidade foi ter conseguido unir esses dois lados da realidade brasileira numa escrita com estilo próprio que captou a cultura do século XVIII tornando-se referência para aqueles que desejam conhecer o Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de Frei Vicente e Antonil, apesar de terem como característica básica à descrição, o diferencial desses dois autores foi a pesquisa feita por ambos antes de escrever suas obras, de terem produzido um discurso onde mostra os principais setores da sociedade, confrontando a realidade de cada um, numa visão critica sobre a realidade brasileira. São obras tratam de assuntos até hoje discutidos. Eles tiveram uma posição de verdadeiros historiadores, mesmo num período em que a historia não tinha o status de ciência. Foi devido a todas essas qualidades, que sofreram a censura da sua época sendo relegado a ela o lugar do esquecimento. Entretanto, não ficaram esquecidas tornando-se uma das fontes mais usadas de todo o período colonial.
A produção desses historiadores nos faz pensar qual seria a identidade de seus trabalhos. Ambos eram religiosos, porém, ninguém contesta a contribuição valiosa que deram a história com seus escritos. Como então identificar trabalhos sendo específicos de História, Sociologia ou Antropologia? As ciências sociais têm fronteiras tênues e por isso elas ajudam-se no sentido de que cada uma contribui de acordo com os objetivos dos trabalhos feitos tanto por historiadores, sociólogos, antropólogos ou de qualquer outra disciplina de área a fim. Portanto, podem-se fazer trabalhos de História com aspectos sociólogos ou antropólogos e vice-versa.


[1] Aluna do Curso de Historia do S-VII da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – UECE – Limoeiro do Norte da disciplina de Historiografia Brasileira.
[2] CORRÊA, Dora Shellard. Historiadores e Cronistas e a paisagem da Colônia Brasil. In Revista Brasileira de Historia. São Paulo, v. 26, nº 51, p. 63 – 87, 2006.

BIBLIOGRAFIA
CORRÊA, Dora Shellard. Historiadores e Cronistas e a Paisagem da Colônia Brasil. In Revista Brasileira de Historia. São Paulo, v. 26, nº 51, p. 63 – 87, 2006.
IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: Capítulos de Historiografia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.
MOTA, Lourenço Danças (org). Introdução ao Brasil: Um banquete no Trópico. 3ª ed. São Paulo: SENAC, 2001. vol.1.