segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Grupo de Estudo e Trabalho para a Melhoria e Revitalização do Assentamento Bela Vista

Por Francisco Antonio da Silva

    A história dos últimos 500 anos do Brasil tem sido marcada em linhas gerais pela luta dos proprietários de terras e os não-proprietários, ou seja, os "SEM TERRA". A terra no Brasil após a chegada dos portugueses tornou-se condição essencial para a estruturação do domínio estrangeiro sobre o nosso país. Para a efetiva ocupação do território os portugueses travaram guerras de extermínio e aprisionamento com os habitantes da terra e, contando com a ajuda da Igreja Católica, realizou também o etnocídio, ou seja, a destruição das crenças, saberes e formas de vida construídas durante milhares de anos pelos povos que aqui viviam.
    

Reivindicações do P.A. Bela Vista ao INCRA-CE


 

O Projeto de Assentamento Bela Vista, localizado no município de Jaguaruana-Ce, vem através deste documento apresentar à Superintendência Regional do INCRA no Ceará uma lista de reivindicações e, ao mesmo tempo, pedir agilidade na solução dos problemas vivenciados por este P.A. para que possamos contar com as condições mínimas necessárias para o desenvolvimento e melhoria das condições de vida dos assentados e assentadas.

  1. A recuperação da estrada que liga o assentamento à sede do município.

Todos os anos vivenciamos os mesmos problemas quando se inicia o período chuvoso, pois as estradas são cortadas pela chuva trazendo graves transtornos para o Assentamento Bela Vista e os outros assentamentos que ficam no seu entorno como os P.A's Serra Dantas, Bernardo Marinho I e Campos Verdes, assim como o acampamento Bom Jesus e localidades vizinhas como Gurgel, Pacatanha, Cabeço Branco, Lagoa da Salsa entre outras.

Os problemas advindos da precariedade das estradas são diversos e o principal deles é o interrompimento das aulas, pois no Assentamento funciona um Núcleo de Apoio Escolar, ou seja, estudam na escola do assentamento alunos das comunidades citadas anteriormente e do P.A. Serra Dantas. Também são prejudicados os alunos do ensino médio que estudam na sede do município. Este ano estes alunos (os que cursam ensino médio) passaram mais de três meses sem irem à escola, enquanto os que estudam na escola do assentamento tiveram mais de um mês de paralisação. Nos demais meses do período chuvoso a escola só funcionava quando os professores tinham condições de funcionar (muitos professores sofreram acidentes nesse período devido à precariedade das estradas).

Neste ano a estrada do assentamento foi cortada pelas águas em quatro trechos, o que dificultou o abastecimento e prejudicou a produção, pois o trator não tinha como chegar aos lotes para preparar os solos para o plantio.

Precisamos que seja agilizada a liberação dos recursos para a recuperação da estrada, pois do contrário se repetirão no próximo ano os mesmos problemas vivenciados há treze anos.

  1. Liberação dos recursos para a reforma das casas

No final de 2008 foram liberados recursos na ordem de R$ 3.000,00 (três mil reais) para reforma das casas do Assentamento Bela Vista. No entanto, a previsão total foi de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), assim ainda faltam serem liberados dois mil reais (R$ 2.000,00). Nesse sentido, uma de nossas solicitações é a liberação deste recurso para que seja terminado o serviço das reformas. Este recurso é muito importante para os assentados, pois se destina à construção dos galpões que terão muita utilidade para os assentados.

  1. Sistema de abastecimento de água

O acesso à água é uma das condições para a melhoria da qualidade de vida dos assentamentos de reforma agrária. Um dos problemas que mais dificultam a vida dos assentados do Assentamento Bela Vista é o acesso à água. Hoje essa situação é bem melhor do que antes, no entanto ainda não se tem uma infraestrutura capaz de garantir a satisfação dos assentados, pois temos um poço que leva água à vila, no entanto, ainda não temos água encanada nas residências.

Nossa solicitação quanto a esta questão é que o INCRA-CE propicie condições para a construção do sistema de abastecimento de água do assentamento Bela Vista. Para isso, serão necessários a perfuração de um poço profundo na vila principal (pois o que temos não comporta uma ação desse tipo, já que nesta vila vivem 153 famílias) e a recuperação ou perfuração de um poço profundo na Vila da Sede (que tem 21 famílias), além dos recursos necessários para que a água possa chegar às torneiras de cada residência.

Consideramos que este será um investimento que trará um ganho de qualidade de vida incalculável para o assentamento, pois a partir daí pode-se pensar outras ações e projetos como "quintais produtivos", por exemplo.

  1. Acesso à Internet

O Assentamento Bela Vista, tanto em termos de área quanto de população assentada, pode ser considerado um projeto de grande porte para os padrões regionais. A sua população de crianças e jovens já conta com mais de 500 (quinhentos) indivíduos. Essa população tem necessidades que vão além das de seus pais e por isso se faz necessário o desenvolvimento de ações e projetos que atendam suas demandas em particular.

Nesse sentido, solicitamos desta instituição que pensa a reforma agrária numa perspectiva mais ampla a instalação de um servidor ou provedor de internet no Assentamento Bela Vista, que já conta com no mínimo quatro computadores e com perspectiva de aquisição por parte das associações de pelo menos mais dois. No momento a Associação Cooperativista Nova Vida do Assentamento Bela Vista está criando um departamento denominado Grupo de Estudo e Trabalho para a Melhoria e Revitalização do Assentamento Bela Vista – GETRAM, que estar elaborando um projeto para a instalação de um Laboratório de Informática, que contará com no mínimo 10 (dez) computadores. A disponibilidade do serviço de internet será uma grande contribuição do INCRA para com o Assentamento Bela Vista e o seu entorno.

A importância de se ter o serviço de internet justifica-se pelo fato de que a informática como ferramenta educacional tem se revelado um instrumento de grande importância para o desenvolvimento socioeconômico e cultural. A "inclusão digital", como se convencionou denominar a atual tendência da educação por meio das tecnologias da informação, tem contribuído, no Brasil e em outras partes do mundo, para dar oportunidades a milhões de crianças, jovens e adultos que não dispõem de condições e competências exigidas pelas sociedades contemporâneas. Assim, diversos projetos e ações neste campo têm contribuído para diminuição das desigualdades sociais e a superação da miséria, pois possibilita aos sujeitos envolvidos o desenvolvimento de competências e saberes que lhes proporcionam melhores condições de acesso aos bens (materiais e imateriais), serviços e mercado de trabalho.

Nesse sentido, os sujeitos que não têm um domínio mínimo das tecnologias da informação encontram um entrave a mais para sua inserção no "mundo do trabalho", pois embora disponham de competências e habilidades apreendidas no ensino regular, faltam-lhes os saberes para lidarem com um mundo que a cada dia reforça seus alicerces sobre a virtualidade e a rapidez das informações.

Nessa conjuntura, as categorias sociais desfavorecidas (camponeses, operários, desempregados, favelados, entre outros) são as mais afetadas, pois são marcadas historicamente pela exclusão social e a exploração. Embora a escola pública tenha se universalizado nas duas últimas décadas ainda não conseguiu inverter a situação de baixa ou pouca escolaridade destes sujeitos sociais. Essa situação é um fator de impedimento para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Com os avanços das tecnologias da informação as categorias sociais que têm pouca ou baixa escolaridade ficam ainda mais excluídas das oportunidades que se apresentam. Por isso, consideramos que o serviço de internet dará uma grande contribuição ao assentamento, pois possibilitará condições de acesso à informação e as tecnologias educacionais que estão tão distantes e ajudará as crianças e jovens a terem melhores condições para viverem no assentamento Bela Vista.

  1. Considerações

As reivindicações que apresentamos através deste documento são de fundamental importância para a melhoria da qualidade de vida dos assentados do Assentamento Bela Vista e da população (assentada ou não) do seu entorno. Por isso, pedimos o empenho da Superintendência Regional do INCRA no Ceará para que nossas reivindicações sejam atendidas.


 

P.A. Bela Vista, Jaguaruana-CE, 14 de setembro de 2009.

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Francisco Evangelista de Carvalho

Presidente da Associação Cooperativista Nova Vida do Assentamento Bela Vista

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Maria Evangelina do Amaral Mesquita

Presidente da Associação dos Assentados do Assentamento Bela Vista

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sugestão Bibliográfica para o Colóquio de História do Brasil: Revoltas e Rebeliões no Império

A abaixo estão relacionados alguns textos e revistas disponíveis na Internet. Bom Proveito.
Balaiada: Ver o texto de maria de Lourdes Janoti "Balaiada: a construção da mémória histórica", disponível no site http://www.scielo.br/pdf/his/v24n1/a03v24n1.pdf;

Revolta dos Malês: ver o texto de Agnaldo Kupper "MALÊS: UMA PASSAGEM A SER CONCRETIZADA" disponível no site http://web.unifil.br/docs/revista_eletronica/terra_cultura/42/Terra%20e%20Cultura_42-7.pdf;

Insurreição Praeira: ver o texto de Marcus J. M. de Carvalho, Os nomes da Revolução: lideranças populares na Insurreição Praieira, Recife, 1848-1849, disponível no site http://www.scielo.br/pdf/rbh/v23n45/16526.pdf;
Cabanagem: ver o texto de Maria das Graças Gomes de Pina, CABANAGEM: «O VULCÃO DA ANARQUIA», disponível no site www.uefs.br/nep/labirintos/edicoes/01_2008/07_artigo_maria_da_graca_gomes_de_pina.pdf;
OUTROS FONTES DE INTERESSE:
1. JOSÉ CÂNDIDO DE MORAIS E SILVA – O “FAROL” atuação política nos debates e lutas do pós-Independência no Maranhão (1828-1831), de Elizabeth Sousa Abrantes, disponível no site http://www.outrostempos.uema.br/curso/poder/39.pdf;
2. Brasil: Revoltas Contra o Império, disponível no site http://www.tudoehistoria.com.br/pdfs/cap07-8oano.pdf;
3. Há diversas revistas que podem ser acessadas pela internet. Vejam algumas:
3.1. Revista de História da Biblioteca Nacional. Acesse o site http://www.revistadehistoria.com.br/ e faça o cadastro para ter acesso aos artigos.
3.2. A Revista de História da USP é excelente e tem seus números disponíveis na Internet desde 1997. acesse o site http://www.usp.br/revistadehistoria/;
3.3. Outra Revista de Bastante interesse é a Revista Eletrônica de História do Brasil, que também tem suas edições disponíveis desde 1997. Acesse o site http://www.rehb.ufjf.br/;
3.4. Para Acessar a FÊNIX - Revista de História e Estudos Culturais, veja o site http://www.revistafenix.pro.br/;
3.4. Revista História Hoje - Revista Eletrônica de História. Acesse o site www.anpuh.uepg.br/historia-hoje
3.5. Revista Varia História, do Departamento de História da UFMG. Site http://www.fafich.ufmg.br/varia/entrada
3.7. Klepsidra - Revista Virtual de História. Site http://www.klepsidra.net/novaklepsidra.html;
Em breve darei mais algumas dicas.
Francisco Antonio da Silva

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O que é pós-modernidade? Um diálogo com Agnes Heller e Ferenc Fehér

Francisco Antonio da Silva[1]

Um dos temas principais que ronda a arena das Ciências Sociais e Humanas é a questão da pós-modernidade. Teóricos da Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Filosofia e História limitam seus esforços intelectuais a redefinirem o campo de atuação de suas respectivas áreas. Argumentam que as sociedades ocidentais não podem mais ser compreendidas a partir dos “velhos” referenciais teórico-metodológicos herdados do século XX. Argumentam também que a modernidade já não mais existe (daí insistirem na pós-modernidade enquanto discurso e ao mesmo tempo processo).
A pós-modernidade é um projeto político defendido com unhas e dentes (e também por garras muito afiadas) por muitos intelectuais dentro da Universidade e por profissionais em diversos campos de atuação, que se encarregam de fazer a propaganda desse novo discurso que se pretende hegemônico e, embora, fazendo uma cruzada contra a “grande narrativa” ou “narrativas totalizantes” pretende substituí-las, principalmente o marxismo.
Mas afinal o que é a pós-modernidade? Vamos responder a esta pergunta com a ajuda de dois teóricos que defendem este projeto: Agnes Heller e Ferenc Fehér. No livro A Condição Política Pós-Moderna[2] os autores explicitam os fundamentos e os pressupostos do projeto político e ideológico chamado de pós-modernidade. Para eles a pós-modernidade é caracterizada pela consciência generalizada da pos-historie ou o fim da história, cujo sentimento geral é o de “estar além”. Daí os diversos “pós” que recheiam a retórica dos pós-modernos; por isso vivemos em sociedades pós-industriais, nas quais o trabalho perdeu a centralidade e o conflito de classes não é mais importante para se compreender a dinâmica e o ordenamento da vida moderna.
Uma característica comum a esta corrente é a resignação. Para começar, embora seja forte o sentimento de “estar além”, a única a realidade a qual se apega é o presente, ou seja, as sociedades ocidentais contemporâneas. No entanto, para os pós-modernos a questão social jamais será resolvida, uma questão que norteou as ciências sociais e humanas em grande parte do século XIX até os anos setenta do século seguinte. A ciência social moderna sempre teve uma intenção prática importante, fosse ela explícita ou não. Para alguns cientistas sociais como Durkheim, por exemplo, a ciência social deveria contribuir para a compreensão dos problemas ou anomalias das sociedades capitalistas ocidentais e, a partir de uma intervenção racional ou planejada, ela seria responsável pela volta à normalidade do sistema. Outros como Karl Marx e F. Engels tentaram uma análise mais profunda das sociedades capitalistas, elaborando os fundamentos para a superação das mesmas. Estas duas posturas científicas demonstram claramente a natureza da ciência moderna, que sempre oscilou entre a reforma e a revolução. Ambas compreendiam a necessidade da ciência em resolver os problemas sociais ou pelo menos produzir um discurso capaz de orientar a elaboração de políticas universalistas que os enfrentassem numa perspectiva ampla.
Para Agnes Heller e Ferenc Fehér, como a questão social jamais será resolvida, não há necessidade de uma ciência que pretenda elaborar um “discurso totalizante”, pois as “grandes narrativas” denunciam as intenções de “políticas redentoras”, que defendem a inevitabilidade da dominação (seja de uma classe sobre outra ou do Estado sobre a sociedade). Negando-se a enfrentarem o problema da questão social como um dos temas das ciências sociais e humanas renegam a ciência moderna como fonte de intervenção humana na realidade. Ela restringe-se a uma dimensão limitada da vida, servindo ao entretenimento ou, no máximo, a vasculhar migalhas da realidade contemporânea.
A resignação é a condição básica para se viver em um tempo no qual o presente é contínuo. Assim, não é necessário cultivar a memória histórica[3] e nem a imaginação sociológica[4], já que não é mais necessário para compreendermos o mundo no qual vivemos ter uma visão totalizante da realidade. O que importa para os pós-modernos é o indivíduo estar satisfeito com sua vida, portanto, o que importa é a biografia e a história de vida[5]. Assim, as sociedades contemporâneas se tornarão satisfeitas quando os indivíduos se engajarem, tentando transformar a realidade da vida cotidiana a partir de seu ciclo de amizades, familiares, etc. A categoria insatisfação se assemelha à noção de fato social total maussiana[6]. No entanto, como os autores descartam qualquer perspectiva mais abrangente, desprezam o aprofundamento da análise desta questão, preferindo refletir a respeito da questão: como estar satisfeito numa sociedade insatisfeita?
As respostas a esta questão representam a máxima do esforço intelectual dos teóricos e discípulos da pós-modernidade. Compreendem as sociedades ocidentais contemporâneas como sendo “sociedades sem força”, portanto, sem dominação e hierarquia. Como não há dominação e hierarquia, ou seja, não há um “centro” organizador, os sujeitos individuais e coletivos têm a possibilidade de buscarem a satisfação sem se preocuparem com a transformação da sociedade. Buscando a satisfação pessoal, ou seja, buscando suprir suas necessidades e carências, os indivíduos têm a possibilidade de transformarem a contingência em destino. Transformam assim as limitações sociais e naturais (contingência) em realizações e autodeterminação (riqueza, fama, poder e reconhecimento, por um lado, e ampliação da democracia, por outro).
Enfim, o projeto político e ideológico conhecido como pós-modernidade não ultrapassa os limites da modernidade. Antes procuram nichos ou guetos da modernidade para neles se refugiarem, fugindo aos problemas das sociedades contemporâneas ocidentais, tentando criar sentimentos de satisfação em meio ao caos gerados pelas sociedades de mercado e de democracia liberal.
[1] Professor do Curso de História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM), da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
[2] HELLER, Agnes & FEHÉR, Ferenc. A Condição Política Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
[3] Para Eric Hobsbawm uma das constatações mais importantes que o historiador pode observar a respeito do século XX é a perca da memória histórica, fazendo com que tenhamos a impressão de que vivemos num eterno presente. Assim, a relação passado, presente e futuro, torna-se fluída e sem sentido, pois o sujeito imergido no presente constante perde a noção da temporalidade e isso faz com que também se perca a capacidade de compreender a realidade da vida cotidiana de forma mais profunda (ver HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995).
[4] Para White Mills a imaginação sociológica é uma operação que possibilita ao sujeito uma compreensão mais profunda das sociedades contemporâneas. O conhecimento do mundo a partir dos instrumentais oferecidos pelo senso comum nos fornece uma visão limitada do mundo, pois a referência utilizada é o contato direto que os indivíduos têm com a realidade a partir das relações familiares, vizinhança, trabalho, escola, etc. Assim, a característica deste conhecimento é a biografia. Conhecemos apenas aquilo que o meio permite conhecer e a nossa história individual é capaz de nos oferecer enquanto referencial. Para que possamos compreender melhor o mundo é necessário situarmos nossa história individual no contexto da história contemporânea, pois só assim poderemos compreender de forma mais profunda nossas vidas e o mundo que nos envolve (ver MILLS, White. A Imaginação Sociológica. )
[5] Para Agnes Heller e Ferenc Fehér a insatisfação é um dos eixos dinâmicos das sociedades contemporâneas ocidentais, fazendo com que elas progridam e se desenvolvam, pois a insatisfação faz com que os indivíduos estejam sempre tentando suprir suas carências e necessidades, lutando por melhores condições de vida ou por fama, reconhecimento, poder e riqueza.
[6] Marcel Mauss ampliando os estudos do tio, Emile Durkheim, desenvolve o conceito de fato social total para explicar aquelas realidades centrais da vida de um grupo social. No caso, Mauss elege a dádiva (o processo que envolve os atos de dar, receber e retribuir) como sendo a ação social elementar das sociedades simples ou tribais (CAILLÉ, Alain. Nem holismo nem individualismo metodológicos: Marcel Mauss e o paradigma da dádiva. In Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 13, nº 38, out./98). Para uma análise mais completa da questão (ver GODBOUT, Jacques T. & CAILLÉ, Allain. O Espírito da Dádiva. Traduzido por Patrice Charles F. X. Wuillaume. - Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1999).

Dominação e Hierarquia Estão Superadas nas Sociedades Capitalistas Ocidentais?

Francisco Antonio da Silva[1]

Segundo Agnes Heller e Ferenc Fehér as sociedades capitalistas ocidentais são “sociedades sem força”, nas quais dominação e hierarquia foram superadas[2]. Este é o argumento que os autores utilizam para definirem as sociedades contemporâneas ocidentais e ao mesmo tempo delimitarem o campo de atuação dos teóricos da pós-modernidade. Para eles o que levou os cientistas sociais a definirem tais sociedades enquanto totalidade foi a existência da dominação e da hierarquia e como estas não mais existem, tampouco há necessidade de abordagens e teorias totalizantes para a compreensão das mesmas.
Partidários de uma microfísica do poder[3] celebram a morte do Estado moderno, que era um centro (ou o principal) organizador, fazendo com que todos os campos sociais (político, econômico, cultural, educacional, etc.) oscilassem em torno de si, fazendo com que diversos modelos teóricos tomassem esse centro como alvo de suas análises, na tentativa de reformá-lo ou aboli-lo.
Para os pós-modernos este centro organizador da vida moderna não existe mais, portanto, não há igualmente necessidade de elaboração de grandes narrativas para explicar a vida contemporânea. Compreendem o estado e as sociedades contemporâneas na perspectiva do neoliberalismo[4], que entende que o Estado não tem mais o papel de organizar, mas sim regular as atividades dos sujeitos individuais e coletivos. Desta forma, o Leviatã hobesiano deixa de existir, delegando suas funções à sociedade civil, que no livre jogo do mercado elege as opções mais adequadas à satisfação das necessidades e carências.
Nesta abordagem não há dominação e hierarquia porque a sociedade civil finalmente conseguiu encarnar o espírito do mundo hegeliano e agora pode transformar as contingências em destino, ou seja, a humanidade conseguiu alcançar os meios para a autodeterminação e, portanto, ser livre. Desta forma, uma conseqüência lógica deste discurso é a decretação do “fim da história”. O indivíduo tipo ideal desta nova realidade é o “consumidor”, o cidadão por excelência do pos-historie.
As lutas emancipatórias dos séculos XIX e XX não têm mais espaços nas sociedades pós-modernas porque não há mais contra quem lutar, nem tampouco há um centro organizador para reformar ou destruir. As lutas e reivindicações devem voltar para questões pontuais e limitadas. Não é mais preciso mobilizar todos os setores da sociedade, pois cada sujeito (individual ou coletivo) agindo em esferas particulares poderá transformar a sociedade. Este é cenário construído pelas correntes que se denominam pós-modernas, apregoando um sentimento de resignação coletiva que leva a aceitação do estado de coisas postas na atualidade.
[1] Professor do Curso de História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM), da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
[2] HELLER, Agnes & FEHÉR, Ferenc. A Condição Política Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
[3] Ver a respeito FOUCAULT, Michel. A Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Graal, 1988.

[4] Para os defensores do neoliberalismo o Estado deve ser mínimo, ou seja, não pode ser intervencionista. A lógica do mercado e do capital financeiro deve sobrepor-se aos interesses sociais e às políticas públicas que visem o desenvolvimento social. A sociedade civil deve assumir funções que antes cabiam ao poder público e, desta forma, o Estado passa de “organizador” a “regulador”. Por isso, os pós-modernos afirmam que não existem mais dominação e hierarquia nas sociedades contemporâneas ocidentais.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

TEXTOS DE HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

Os textos da Disciplina de Historiografia Brasileira do semestre 2008.2, que se encontram disponíveis na internet são os seguintes:

Texto IV: Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional, de Manoel Luis Lima Salgado Guimarães, disponível em http://www.cpdoc.fgv.br/revista/asp/dsp_edicao.asp?cd_edi=5

Texto V: Em nome do pai, mas não do patriarca: ensaio sobre os limites da imparcialidade na obra de Varnhagen, de Temístocles César, disponível no site http://www.scielo.br/pdf/his/v24n2/a09v24n2.pdf

Texto VIII: Historiografia e História Cultural: representações de Capistrano de Abreu na historiografia brasileira – por Ítala Byanca Morais da Silva. Disponível no site http://www.historiaemreflexao.ufgd.edu.br/A8/HISTORIOGRAFIA%20E%20HISTORIA%20CULTURAL.pdf?PHPSESSID=04b51e32f48f1daec2247d12af303961

Texto IX: Nota Historiográfica sobre aSociedade Colonial, de Rodrigo Elias Caetano Gomes. Disponível no site http://www.klepsidra.net/klepsidra17/colonial.htm

Texto XII: José Honório Rodrigues: os clássicos e uma possível identidade historiográfica brasileira (décadas de 1940-80), de André de Lemos Freixo. Disponível no site www.encontro2008.rj.anpuh.org/.../1212971758_ARQUIVO_JoseHonorioRodrigues

Texto XIII: Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil, Tamás Szmrecsányi. In nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004. pp. 11-37. Disponível no site http://www.face.ufmg.br/novaeconomia/sumarios/v14n1/Szmrecsanyi.pdf

Texto XIV: Economia e Política na Historiografia Brasileira, de Sônia Regina de Mendonça. Disponível no site http://www.historia.uff.br/estadoepoder/files/art01_mendonca_economiaepolitica.pdf

Texto XVII: Os Estudos Regionais na historiografia Brasileira, de Marcos Lobato Martins, disponível no site www.minasdehistoria.blog.br/wp-content/arquivos//2008/03/historia-e-estudos-regionais.pdf

Texto XVIII: A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA BRASILEIRA SOBRE O MOVIMENTO OPERÁRIO FORA DO EIXO RIO- SÃO PAULO, de Sílvia Regina Ferraz Petersen. Disponível no site sindicalismo.pessoal.bridge.com.br/SilviaPetersen2005.rtf

Atenciosamente
Francisco Antonio da Silva,
Prof. da Disciplina Histotiografia Brasileira

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Historiografia Brasileira

O texto para a próxima aula (15/01/2009) "O Brasil nos relatos de viajantes ingleses do século XVIII: produção de discursos sobre o Novo Mundo" encontra-se disponível no site http://www.scielo.br/pdf/rbh/v28n55/a07v28n55.pdf.

Atenciosamente
Francisco Antonio da Silva