quarta-feira, 29 de outubro de 2008

OH, GILBERTO!

Por Francisco Antonio da Silva[1]
O que fez Gilberto Freire? Talvez, a maior história do Brasil senhorial. Talvez a falta do y não identifique o autor. É o mesmo de Casa-Grande & Senzala. Não é problema ter, ele falado, dos senhores escravocratas. Talvez, qualquer brasileiro inteligente ou, no mínimo, interessado em saber o que foi o Brasil de 1500 até nossos dias deveria ler Gilberto Freyre, de Casa-Grande e Senzala.
Brasileiros, somos nós. Infelizmente, a forma em que deu o municipalismo hoje, tenha atrapalhado especialistas de todas as áreas do conhecimento. Alguns dizem que somos o país do FUTURO. Nós somos o Brasil; mal compreendido por todos (até por nossos maiores gênios).
O que podemos fazer (sem interrogação). Não pergunto aos brasileiros (chega de regionalismos), nós somos um povo universal (chega de eugenia). Ela serve para os senhores de todos os tipos (nessa tipologia não excluo os que se dizem socialistas e comunistas). Infelizmente, foi uma descoberta incrível: o falo serviria como instrumento de domínio. Que descoberta! Infelizmente é preciso reavaliar tal tese: não faz mais sentido tal teoria. O duro é questionar a prática. Eis o dilema da sociedade ocidental.
[1] Francisco Antonio da Silva é graduado em História pela Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, Universidade Estadual do Ceará. Mestre em Sociologia pela UFC.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A NOVA HISTORIA SEGUNDO CAPISTRANO DE ABREU

Fredivânia da C. Nogueira, Graduando em História

Francisco Antonio da Silva, Professor do Curso de História da FAFIDAM

RESUMO: A obra de Capistrano foi de grande importância para a Historiografia brasileira, apesar de não fazer uma grande mudança em relação à obra de Varnhagem, do qual sempre teceu criticas devido sua forma de escrita fria e de grande exaltação portuguesa. Esta constante é notável no capítulo I de sua obra Capítulos de História Colonial que se intitula Antecedentes Indígenas que embora possua esse nome pouco fala dos indígenas.

INTRODUÇÃO

Capistrano de Abreu nasceu na província do Ceara em 1853, mais precisamente em Colominjuba. Ali estudou o primário e depois continuou os estudos em Pernambuco, onde fez curso de inglês e francês, porem não cursou o ensino superior , na Faculdade de Direito de Recife.

Em 1875 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde conseguiu o emprego na Livraria Garnier e depois conquistou uma vaga de professor no Colégio Aquino , onde dava aulas de inglês e francês. Em 1879 fez concurso para integrar o quadro de funcionários da Biblioteca Nacional, onde passa a trabalhar ao mesmo tempo em na imprensa como redator da Gazeta de Noticias, dedicava-se a textos de critica literária e Historia da Literatura.

Em 1883 , concorre a cátedra de Geografia e Historia do Brasil , do Imperial Colégio D. Pedro II, Que já tinha sido ocupada por Gonçalves Dias. Em 1887 ingressou no IHGB, mas continuou lecionando ate 1889, quando houve uma reforma de ensino que acabou com sua cadeira. Daí em diante passou a viver do trabalho jornalístico e da pesquisa histórica.


Capistrano e a Escrita da Nova História

Capistrano era um autodidata que muito se interessava pelas relações entre Historia e Geografia, ate porque ele sempre teve convicção de que a sociedade era marcada por agentes culturais e geográficos. Tal visão e bastante visível na composição dos Capítulos de Historia Colonial , obra escrita mediante um sonho de escrever uma nova Historia do Brasil, uma forma diferente das que já haviam sido feitas, principalmente a obra de Francisco Adolfo Varnhagem, Historia Geral do Brasil , do qual chegou ate a fazer uma reedição .

Para Capistrano Varnhagem tinha um estilo frio e insensível de escrever, apesar da admiração que tinha pelo historiador , não escondia que detestava seu texto, ate porque seguia uma cronologia de fatos oficiais do qual Capistrano sempre foi contra, O caráter oficial de Varnhagem, desejava manter a imagem de excelência do império português , louvando e defendendo a colonização.
Varnhagem , também não seguia a linha de Von Martius , o naturalista alemão que, em 1884 ganhou o concurso realizado pelo IHGB a fim de eleger a maneira de "Como se deve escrever a historia do Brasil" . Von Martius propôs que se levasse em conta a fusão das três raças (branco português, índio e negro africano ) . Varnhagem sempre falou do índio de forma pejorativa e excludente, e dos negros nem ao menos falava.

Capistrano reconhecia a importância da obra de Varnhagem , porém detestava sua forma fria e insensível de falar da vida social, as diferenças regionais e do povo , do qual Capistrano tinha grande preocupação pela ausência em suas obras.

A Visão Indígena de Capistrano

Mesmo com tanta preocupação de Capistrano em relação a escrita de Varnhagem , pela visão social e popular que era lhe era ausente, Capistrano faz em seu primeiro capítulo Antecedentes indígenas , em que o autor demonstra seu amor pela geografia ao descrever os limites territoriais, toda a flora , fauna, relevo e clima do Brasil, detalhando os oceanos que o rodeiam, bacias e rios , principalmente o rio São Francisco que para ele é de grande importância histórica detalhando todo o seu percurso. Capistrano também relata as regiões com freqüência de chuvas e as que passam por períodos de secas. Enfim Capistrano faz uma viagem por todo o território brasileiro ressaltando cada geográfico, deixando apenas as duas ultimas paginas para realmente falar dos índios suas crenças, costumes e rituais.

A principio fala da colaboração que o índio deu para evolução social, da prática da agricultura, da caça e da pesca, assim como mostra a que sexo cada atividade era destinada. Capistrano também fala sobre as guerras existentes entre tribos e as práticas efetuadas após o seu termino para vencedores e vencidos. Comenta também o tipo de habitação, a autoridade dos chefes (pagés), da espiritualidade, da observação da natureza,do artesanato, das lendas , das línguas faladas pelas diversas tribos que aqui podia se encontrar.E por fim discute se influência que o meio geográfico exerceu sobre os índios predispôs ou não a indolência do índio. E afirma:

"Indolente o indígena era , sem dúvida , mas também era capaz de grandes esforços, podia dar muito de si. O principal efeito dos fatores antropogeográficos foi dispensar a cooperação[...]A mesma ausência de cooperação, a mesma incapacidade de ação incorporada e inteligente, limitada apenas pela divisão do trabalho e suas conseqüências, parece terem os indígenas legado a seus sucessores."

Considerações finais

A intenção em destacar um capítulo apenas de tão vasta obra, não se justifica apenas pela facilidade de análise, mas por este ter de certa forma me chamado muito a atenção devido a disparidade entre o titulo e o assunto com que o autor o desenvolve.

Mesmo trazendo grandes inovações Capistrano ainda se remete a práticas que há muito tempo se utilizavam outros autores, como é o caso da descrição da natureza, algo que ele utiliza quase que do começo ao fim do capitulo I da obra que desejava marcar a nova escrita da história do Brasil. Sendo assim seria realmente essa a nova forma de se escrever a história do Brasil.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sobre História

HOBSBAWM, Eric. O Presente como História. In: Sobre História. Trad. Cid Knipel Moreira. – São Paulo: Cia das Letras, 1998. pp. 243-255

Por Francisco Antonio da Silva,
Professor da Disciplina História Contemporânea III,
Curso de História da FAFIDAM/UECE

A preocupação como a história do tempo presente é o tema central deste texto do historiador inglês Eric Hobsbawm. Para ele, a afirmação de “que toda história é história contemporânea disfarçada” (p. 243), contém um pouco de verdade. No entanto, uma coisa é escrever a história da Antiguidade Clássica como um filho do século XX, e “outra coisa bem diferente é escrevermos a história do próprio tempo em que vivemos”.
Para refletir a respeito desta questão Hobsbawm reflete sobre três problemas que envolvem a produção historiográfica sobre o tempo presente: a) o problema da própria data de nascimento do historiador ou o problema das gerações; b) os problemas de como nossa própria perspectiva do passado pode mudar enquanto procedimento histórico; e c) o de como escapar das suposições da época partilhadas pela maioria.
Quanto ao primeiro problema é preciso considerar uma questão central: os marcos históricos e o consenso em torno deles. Isso supõe que uma experiência individual de vida também seja uma experiência coletiva, ou seja, que alguns fatos, embora não vivenciados diretamente, tornam-se referências para se pensar o presente na medida em que possibilita a construção de esquemas de pensamento e comportamento que acabam por servirem de referência para a grande maioria das sociedades humanas. Hobsbawm cita alguns desses marcos, como por exemplo, a Segunda Guerra Mundial, a Grande Depressão de 1929-33 e a Revolução Russa de 1917.
No caso da América Latina, podemos pensar na Revolução Cubana, por exemplo, que até os dias atuais continua irrigando as mentes dos intelectuais e dos políticos, orientando as ações e intervenções dos governos latino-americanos e dos Estados Unidos, que colocam a pequena ilha no centro de uma disputa ideológica.
É importante, como faz Hobsbawm, questionar o caráter destes eventos ou marcos. Faz-se necessário perceber até que ponto há semelhante consenso, em que medida ele é permanente, até que ponto está sujeito a mudança, erosão, transformação, como e por quê?
Os marcos ou o consenso sobre determinados eventos estão relacionados ao próprio tempo de vida do historiador, constituindo “o poleiro particular” a partir do qual o historiador sonda o mundo. Assim, “é inevitável que a experiência pessoal desses tempos modele a maneira como os vemos” e refletimos a respeito (p. 245).
Relacionado a esta questão há o problema das gerações. O poleiro particular de cada geração influencia na apreensão dos marcos históricos e na interpretação dos mesmos, além do mais quando as transformações se dão numa velocidade cada vez mais difícil de serem acompanhadas. Hobsbawm reconhece que a mudança nas gerações traz mudanças tanto na escrita quanto na prática historiográfica.
O segundo problema é uma inversão do primeiro e diz respeito ao efeito da passagem dos anos do século sobre a perspectiva do historiador, independentemente de sua idade. Ou seja, o desenrolar de um determinado período histórico, como o século XX, carrega em si uma certa estrutura ou sentido, que só poderá ser compreendido mais amplamente quando a mesma vem átona, num processo de médio e longo prazo. Para Hobsbawm, os eventos ocorridos entre os anos de 1989 e 1991 possibilitaram uma nova compreensão de todo o período anterior iniciado na década de 1970, ou mesmo nos anos 20 e 30. Isso porque a capacidade de previsão do historiador e outros profissionais como os economistas e cientistas políticos é bem menor do que a do período anterior à Segunda Guerra Mundial. Quando falha a capacidade de predição entra em jogo a capacidade de retrospecção, que possibilita ao historiador refletir melhor a respeito do tempo presente.
O terceiro problema afeta os historiadores de todas as gerações e está menos sujeito à rápida revisão à luz dos acontecimentos históricos: o padrão geral das idéias sobre o nosso tempo, que se fundamenta numa visão religiosa do mundo, na guerra entre o Bem e o Mal, Cristo e Anticristo. Até os anos 80 do século passado a guerra religiosa girou em torno do comunismo e capitalismo. Hoje os conflitos residem entre terroristas e defensores da liberdade e da democracia.
Para Hobsbawm, o “perigo das guerras das guerras religiosas é que continuamos a ver o mundo em termos de jogos de soma zero, de divisões binárias mutuamente incompatíveis, mesmo quando as guerras estão terminadas” (p. 253). Fugir a esta visão maniqueísta é grande desafio do historiador que escreve sobre o seu próprio tempo. Ele deve escapar das suposições partilhadas pela maioria. Para isso o historiador deve ser capaz de questionar as visões de mundo dominantes, que naturalizam a realidade e prendem a atenção do observador.
Enfim, o historiador deve ser capaz de ver o desenrolar dos fatos históricos a médio e longo prazos, aperfeiçoando a sua capacidade de retrospecção, análise e reflexão. Nesta perspectivas é necessário pensarmos mais atentamente as questões centrais que estão postas no século XXI, como por exemplo, a idéia generalizada de que não há alternativas ao capitalismo e a nova “guerra santa”, envolvendo ocidente e oriente, que se traduz na guerra contra o terror e a demonização do inimigo.