quinta-feira, 24 de abril de 2008

A formação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e suas Contribuições

Jardênia Ferreira Lima
Granduanda em História, FAFIDAM-UECE.
Francisco Antonio da Silva, Prof. da Disciplina Historiografia Brasileira
Resumo

Neste trabalho irei discorrer sobre a criação do IHGB e seus principais objetivos. Também farei uma breve análise sobre esses objetivos, sua execução (dos objetivos) e uma análise da obra de Francisco Adolfo Varnhagen, o primeiro a escrever uma História Geral do Brasil.
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A história produzida no Brasil, veio a ganhar “status” científico com a implantação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, criado em 1838. Na época, o Brasil vivia sob forte influência do Iluminismo vivido na Europa. Inúmeros intelectuais estrangeiros já haviam escrito a ‘História do Brasil’. Brasileiros, como frei Vicente de Salvador já havia feito o mesmo. Mas até então, os trabalhos produzidos tinham mais um caráter descritivo do que histórico. Era preciso um trabalho com caráter científico que além de descrever os aspectos físicos do país, da colonização e de seu povo, desse a tudo isso um caráter de Nação, que descrevesse e criticasse, problematizasse o que se fazia nessa nova terra.
O IHGB veio dar esse aspecto que faltara. Pragmático da história e incentivador da pesquisa tinha como pilar de sua formação a exploração de fontes. Com traços da influência alemã, preservava o cuidado com a documentação.
Seu funcionamento tem forte aparência com o Institut Historique de Paris. Talvez esta semelhança venha do fato de alguns membros de um Instituto ter ligações com o outro, fazendo assim intercambio de informações entre ambos. Além da Revista, veículo que publicava textos do período colonial, memória e escritos de toda a natureza, inclusive de séculos anteriores, o IHGB também contribuiu com a realização de conferências, curso e uma biblioteca notável.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro tinha como característica principal o conservadorismo (como quase todos os escritores que escreveram a História do Brasil) e manteve ligações com autoridades, inclusive com D. Pedro II, de quem recebia dinheiro.
Outra característica tocante era a composição de seus membros, onde na sua maioria desempenhavam funções ligada ao Estado. Um outro fato marcante, era o processo de admissão que se dava por meio de relações sociais, o que me faz lembrar dos tais cargos comissionados existentes hoje no poder publico brasileiro, onde admite-se pessoas para prestar serviços em determinadas instituições através de laços de amizade ou por meio de ligação direta com quem esta no poder.
Não posso negar-me em ver que o Instituto precisava de subsídios para manter-se, mas infelizmente, como na época, a palavra democracia só imperava nos devaneios de quem ansiava por ela, é de imaginar-se que D. Pedro II teria poder de decisão nas publicações. Também não posso ser mesquinha em fazer essa afirmativa sem justificar-me: essa reflexão veio do que li em ‘Historiadores do Brasil’, de Francisco Iglésias, que aprofundarei mais a frente.
Como o Instituto incentivava a pesquisa e a busca de fontes, era preciso patrocinar quem se aventurasse às mesmas. Também o IHGB buscava uma forma, digamos uma teoria que pudesse abranger todas as perspectivas de como escrever a História Geral do Brasil. Que abrangesse desde a descoberta até o período atual (1838) e que englobasse as três raças e principalmente a monarquia.
Januário da cunha Barbosa, em 1840, sugeriu a proposta de premiar quem descrevesse um modo de como escrever a ‘História do Brasil’. É quase imaginável se pensar que dentre os que compunham e os que contribuíam para o IHGB, nenhum desses tivesse esboçado nenhuma forma para esse problema, até porque um dos objetivos para a criação do Instituto era esse, então se presumia que um projeto já estivesse pronto, se não ao menos em andamento. Essa reflexão parte principalmente do perfil de alguns dos contribuidores do IHGB. O que reflito ainda é que se eles não o tinham não tentaram fazer justamente por não quererem afrontar o Império. Digo isto, pelo fato de anteriormente, trabalhos bons, como o de frei Vicente, não ter sido publicado por ter criticado o processo colonizador.
O fato é que mais uma vez encontraram em um estrangeiro, recursos para escrever a História do Brasil: um alemão chamado Karl Friedrich Philipp Von Martius. Seu trabalho foi vencedor. Continham sugestões que lhe rederam críticas mas representou avanço para seu tempo. Fala de uma historiografia filosófica, em historiador pragmático, sugere uma reflexão crítica como exige a verdadeira historiografia. Deixa de lado a exaltação política. Exalta contingentes étnicos e principalmente o papel das raças que compõem a nação (ainda sem esse sentido). Relações de comércio, eclesiásticas e monarcas. Incentivava a pesquisa em documentos e arquivos como os dos Jesuítas, Franciscanos, Capuchinho, Agostinho, etc. termina seu trabalho criticando o caráter crônico das obras brasileiras. Ressalta a vastidão do país, e a peculiaridade de cada região. Lembra-se também, que a obra deve-se começar pela relação da colônia com Portugal.
Conservador, o autor sugere que a obra produzida sirva para despertar e reanimar em seus leitores amor à pátria, coragem, industria, prudência... Todas as virtudes cívicas.
Em suma, e mesmo com algumas falhas, o projeto de Martius define o que o IHGB almejava: “Um projeto historiográfico capaz de garantir um caráter de identidade à Nação em processo de construção”.
Não podemos de forma alguma desmerecer a monografia de Martius, pois ele desperta magnificamente a atenção para a situação da historiografia nativa, pois, após frei Vicente, ele foi o primeiro a incentivar a problematização da situação dos nativos, aliás, das raças que compunham nosso país. Só dar pouca atenção ao negro, por achar que o mesmo é o fator de impedimento do processo de civilização.
Na verdade o IHGB queria encarregar o próprio Martius de executar o projeto historiográfico contido em seu trabalho. O mesmo recusou. Quem seguiu seu projeto e foi assim considerado “Pai da historiografia brasileira” foi Francisco Adolfo Varnhagen.
Pesquisador incansável viveu no Brasil durante seus sete primeiros anos de vida. Intelectual, sempre ocupou cargos políticos em vários países. Durante sua vida esteve varias vezes no Brasil e mesmo estando no exterior, aproveitava para pesquisar sobre a ex-colônia portuguesa. Também fez parte do quadro de sócios do IHGB, em 1840, onde conheceu D. Pedro II. Quatro anos depois ganhou cidadania brasileira.
Fiel a historiografia Nacional, Varnhagen é altamente conservador. Seguidor da cronologia mantinha esse traço em sua obra. Em sua obra faz o histórico do colonizador ao colonizado. Condena todo e qualquer movimento contra a monarquia. Mas apesar do alto conservadorismo e do seu apresso pela Monarquia, é contra conspirações contra o Império, mas também não é favorável ao políticos corruptos: que ele sutilmente refere-se como “políticos que se preocupam mais com seus interesses pessoais do que com a metrópole".
Em fim, Varnhagen abriu fronteiras para as varias discussões sobre todos os aspectos da formação da Identidade Nacional. Se não fez críticas profundas onde merecia também não se pode tirar seu mérito.
Infelizmente sua obra foi destinada à elite. Não vê nem sente o povo. O objetivo, de seu trabalho, era seguir trilhas da ideologia do IHGB: certificar as identidades nacionais, que para ele era uma sociedade européia e branca.
Valorizou muito a pesquisa e a procura de fontes, fazendo assim do IHGB um rico arquivo. Um fator que o diferenciou, foi a não preocupação em exaltar heróis. O mesmo não acontecia com o IHGB, que publicou em sua Revista várias biografias, contribuindo para a formação de galerias dos heróis nacionais.
Em fim, o IHGB foi o centro de partida para que se começasse umas verdadeiras produções historiográficas, abandonando assim a historia crônica que era produzida no Brasil. Houve alguns sobressaltos, o que não apaga o brilho de suas contribuições.

Bibliografia

GUIMARÃES, Manoel Luis Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma Historia Nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n 1, 1998. P 5_27.
IGLÉISIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: Capítulos de historiografia brasileira. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.

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