quarta-feira, 30 de abril de 2008

A Crônica como Documento Histórico do Brasil Colônia

Fredivânia da C. Nogueira[i]
Francisco Antonio da Silva, Prof. da Disciplina Historiografia Brasileira
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RESUMO: O artigo a seguir tenta fazer uma analise do que teria sido a Historiografia brasileira na época da colonização, ressaltando os cronistas mais importantes da época, analisando seus argumentos e visões, mostrados em suas obras.
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Introdução

A Historiografia brasileira em sua primeira fase se apresenta em forma de crônicas por vários estudiosos que de diversas maneiras analisaram a trajetória brasileira e por que não dizer portuguesa. Porém, o faziam de forma mais descritiva do que histórica, pois não faziam uso – a maioria – do pensamento crítico e analítico, característico de toda obra histórica. Alguns davam destaque às belezas naturais da nova terra, assim como a primeira pessoa a escrever sobre o Brasil, Pero Vaz de Caminha , escreve em suas cartas.

“Tem , ao longo do mar, nalgumas partes , grandes barreiras, delas vermelhas ,delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos.De ponta a ponta, é tudo praia-plana, muito chã e muito formosa” [ii]


Cada Crônica um Novo Olhar

A Obra de Pero de Magalhães Gôndavo - escrita em 1573 e publicada em 1576 – a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil, continha a exaltação das belezas naturais que os “descobridores” aqui encontraram, fazendo o papel de propaganda da nova terra fugindo um pouco da veia historiográfica, assim como a descrição dos homens. Talvez isso ocorresse pelo fato do autor não ter muito conhecimento da terra.
Porém trabalhos como as crônicas jesuítas de Fernão Carmim, se detinham a falar da terra e da gente que aqui vivia, mas de forma mais aprofundada, até porque este viveu quarenta anos no Brasil. Também pode-se falar de Frei Vicente do Salvador que escreveu a primeira ”História do Brasil” por um brasileiro, individuo com amplos conhecimentos que teve além de documentos como fonte, a oralidade de diversas pessoas das mais variadas categorias, com o intuito de relatar fatos da realidade dos habitantes. Sua obra relata desde o descobrimento até a tentativa de conquista da Bahia pelos Holandeses, trata das lutas entre colonizados e colonizadores , fazendo-a de forma critica, realista. Algo que desperta admiração pois o que geralmente obras dessa época e até as mais atuais descrevem uma imagem muito pacifica e quando se fala em conflitos é em defesa dos colonizadores.
Já Frei Vicente não, pois além de todas as inovações já citadas é um marco no que se refere a critica aos portugueses, e até demonstra, segundo Iglesias, uma certa simpatia pelos colonizados. Mas, infelizmente muitos de seus escritos foram perdidos e de muitos outros, além disso tinham dificuldade em publicá-las e quando conseguiam mesmo que fragmentada, poucos chegavam a ler.
No século XVIII, é publicada a História da América portuguesa , de Sebastião Rocha Pita , escritor baiano, este também era culto e fez uso da oralidade como Frei Vicente, porém quando falava de rebeliões não se aprofundava, e muito menos tinha simpatia pelos dominados; era condizente e até desejava o domínio dos colonizadores, fazendo assim uma História portuguesa e não brasileira.
No entanto, Américo Jacobina Lacombe em Introdução ao estudo da História do Brasil (1973), consegue localizar na obra um espírito nacionalista de Rocha Pita, referente as narrações da natureza e a colocação de brasileiros em cargos governamentais, porém ainda ocorre de forma incompleta, pois ele não faz uma colocação a favor do país mediante a repressão dos colonizadores. No entanto sua obra tem pretensão de ser global. Algo do qual Iglesias sentia falta, de uma visão geral do que seria a História do Brasil, mas, ao mesmo tempo, justifica que tal visão era difícil de realizar já que não havia uma consciência de Brasil, mas sim de terras brasileiras.
Mas o grande nome do seiscentos não é de Rocha Pita, e sim o de João Antônio Andreone, em Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas; sua obra se direcionou à economia, analisando a realidade da agricultura e pecuária, assim como problemas sociais e políticos, fazendo uma análise crítica das condições de trabalho, como podemos notar neste trecho do XII capítulo do livro Segundo de cultura e opulência do Brasil: "Do que se padece o açúcar desde o seu nascimento na cana até sair do Brasil” [iii] onde se nota a metáfora entre a produção do açúcar e ao sofrimento do escravo na colônia, desde o seu plantio até a exportação.
Cláudio Manuel da Costa é outro forte nome da época, e do qual percebemos o que Falcon fala em seu artigo "A Identidade do Historiador", quando diz que obras Históricas foram feitas por estudiosos de outras áreas, de maneira que desapertaria a admiração de historiadores, no caso a poesia. O poema Vila Rica de 1773, que trata da criação da vila e possui base Histórica.
Muitos religiosos escreveram obras durante a época da colonização, e talvez estes foram os maiores defensores - pelo menos aparentemente – do povo que aqui viveu e trabalhou, como os índios e escravos que podem ser considerados como os verdadeiros responsáveis pelo desenvolvimento do Brasil, pois na verdade foram eles que fizeram o trabalho pesado. Referente a isso uma citação do Padre Anchieta, quando fala do mal e do bem representados por Deus e o Demônio, me chamou a atenção pois ele fala que o pior mal está no coração dos homens. “O mal se espalha nos matos ou se esconde nas furnas e nos pântanos , de onde sai noite sob as espécies da cobra e do rato, do morcego e da sanguessuga.Mas o perigo mortal se dá quando tais forças, ainda exteriores, penetram na alma dos homens”[iv]
Esta citação, me chamou a atenção pois fala que o pior mal está na alma humana, e é uma grande verdade, pois todo o mal que alguém ou algo ocasiona parte de uma alma perturbada.

Podemos concluir que as crônicas podem até não ser obras históricas, por não possuírem a função crítica que a história deve ter, mas foram muito importantes na época e até os dias atuais pois são documentos, fontes históricas.


[i] Graduanda do curso de Licenciatura plena em História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM/UECE.
[ii]Caminha, Pero Vaz de. Carta a El-Rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil, In:Chaui,Marilena.Brasil:mito fundador e sociedade autoritária.São Paulo: Editora Fundação Perceu Abramo, 2000.pg
[iii] Souza,Laura de Melo Religiosidade popular na colônia In: O Diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosodade popular no Brasil Colônial. São Paulo:Cia.das Letra, 1986
[iv] In:Chaui,Marilena.Brasil:mito fundador e sociedade autoritária.São Paulo: Editora Fundação Perceu Abramo, 2000.pg


Bibliografia

IGLÉSIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.

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