NARRANDO HISTÓRIA, CONSTRUINDO POSSIBILIDADES:
A CRÔNICA HISTÓRICA BRASILEIRA.
Francisca Viliene Cavalcante[i]
A CRÔNICA HISTÓRICA BRASILEIRA.
Francisca Viliene Cavalcante[i]
Francisco Antonio da Silva, Prof. da disciplina Historiografia Brasileira
Resumo
Resumo
Este artigo tenta compreender um pouco das primeiras tentativas de se escrever história no Brasil desde o século XVI ao XVIII, tomando como referência um autor dos setecentos, André João Antonil (italiano) e sua obra Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas. Saliento a necessidade de se perceber a importância desses escritos para compreender a realidade brasileira bem como o contexto do lugar vivenciado pelo escritor. Portanto, a história aqui se apresenta em letras narrativas e em traços de vida humana distinta e particular ao triênio secular (séculos: XVI; XVII; XVIII).
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Introdução
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Introdução
A primeira fase da historiografia brasileira, aqui tomando como referência a definição de Francisco Iglésias[ii], sobre os séculos XVI, XVII e XVIII foi demarcada como uma fase de produção de crônicas. Já no século posterior (século XIX) tem-se uma instituição que irá concentrar-se na articulação de textos historiográficos, que foi o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). O importante de se estudar essa fase, anterior ao Instituto é a possibilidade de percepção de narrativas crônicas que também trazem informações ricas de contexto social, como sugere André João Antonil, cultura e opulência do Brasil.
As mudanças no campo historiográfico marcam em vários séculos um caráter de instabilidade no campo de produção da própria história. Mas em todos os momentos homens diferentes contam histórias ou mesmo estórias numa tentativa de demonstrar algo real, e essa atitude que por vezes pode parece ingênua possibilita, no mínimo, a análise de seu tempo e espaço de construção.
Se homens como Pero de Magalhães Gândavo e André João Antonil, ambos os escritores exemplos de uma escrita de textos com caráter de crônicas, não tenham chegado a escrever textos históricos, ao certo contribuíram fundamentalmente com suas narrativas para um aprofundamento da realidade social brasileira.
Se a “finalidade da história é estudar e analisar o que realmente aconteceu e acontece com os homens, o que com eles se passa concretamente”[iii], precisamos ver estes homens e seus escritos como partículas fundamentais para se compreender as mudanças e permanências da própria construção da história.
Um Homem, Uma Crônica: uma História a Contar
Dentre tantos autores abordados por Francisco Iglésias em sua divisão cronológica de “1500 a 1838”, estão representações breves de homens que na tentativa de estar escrevendo história, produziram narrações que contam muito para uma melhor visibilidade de um Brasil em fase colonial. Longe de serem textos considerados por positivistas como algo verdadeiramente histórico é inegável seu valor informativo.
Homens como Antonil narraram sobre o Brasil e sua retórica suscitou interesses de análises posteriores. Janice Silva ressalta que a obra de Antonil, Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas é fruto de uma vivência brasileira de 25 anos, vivência esta que acabou por estimular no autor um interesse pelo registro de seu conhecimento econômico em solo brasileiro.
Segundo Iglésias o texto de Antonil “apareceu com todas as licenças necessárias, mas logo o governo foi advertido para o perigo que significava o conhecimento das drogas e minas aí aportadas”.[iv] Sobre isso Janice Theodoro da Silva diz:
As razões para o confisco da obra, de acordo com Taunay e Serafim Leite, foram evitar exposição das riquezas da colônia à cobiça de outras nações, responsáveis por saques constantes na costa brasileira. Naquele momento, falar em açúcar, ouro e tabaco era inadequado e perigoso, podendo aguçar a cobiça da França, Holanda e Inglaterra, interessadas em participar do mercado internacional.[v]
Como demonstra a citação acima, o texto é uma narração da situação econômica do país. A obra é dividida em temáticas como o açúcar, tabaco, ouro, gado e outros, ou seja, nela encontraríamos certa divulgação da economia do país. Nesse contexto colonial de exploração de novas terras, realmente parecia perigoso publicizar toda riqueza que a obra colocava.
O texto de Antonil é uma referência do período dos setecentos. Para tanto, uma obra rica em língua e estilo, ferramentas que segundo Silva, são instrumentos de cunho importantíssimos para se compreender o pensamento de Antonil.
Ter a capacidade de transportar o leitor no tempo e recuperar a sensibilidade dos séculos XVII e XVIII é tarefa que poucos conseguem realizar. Porque para penetrar no universo mental de Antonil é necessário lançar mão das mesmas ferramentas que ele utilizava: a língua e o estilo. (...) Porque, e isso é importante ressaltar, é no estilo que está concentrada a capacidade do autor em captar a cultura do século XVIII (1711), fazendo com que ela sobreviva até hoje e desperte genuíno interesse naqueles que desejam continuar descobrindo o Brasil.[vi]
Os escritos anteriores ao IHGB têm características puramente narrativas, pois ainda a história não tinha sido tomada pelo status de ciência. Homens como Antonil escreveram, narraram suas experiências dispondo temas e abordagens plausíveis na época e de interesse próprios, fossem eles políticos, econômicos e/ou sociais como um todo.
O importante é ter clareza de que escrevendo em moldes semelhantes, homens distintos participam de uma “realidade total que é a realidade do homem vivendo em sociedade no mundo”.[vii] Desse modo, escrever crônicas, história ou estórias para a análise destes séculos foi tão importante como os escritos positivistas para os estudiosos de hoje.
Considerações Finais
A escolha por estudar concentradamente Antonil tem a ver com a acessibilidade da fonte textual para análise. No entanto, a tessitura deste artigo centrou-se na necessidade de se conhecer um pouco mais da história da historiografia brasileira.
Interpretações várias já foram lançadas sobre esses homens e seus escritos, e isso é o que enriquece o interesse pela variabilidade de fontes e possibilidades múltiplas de análises históricas.
Um mundo particular posto à interpretações e análises distintas. Nele novos espaços são construídos dentro da particularidade de cada homem, de cada momento. Uma certeza não há, existe apenas uma necessidade de se reconhecer de todos os séculos as complexas possibilidades de análises históricas. Aqui, finalizo estas considerações ultimas com uma fala de Vavy Pacheco que diz:
Escrever história não é estabelecer certezas, mas é reduzir o campo das incertezas, é estabelecer um feixe de probabilidades. Não é dizer tudo sobre uma determinada realidade, mas explicar o que nela é fundamental.[viii]
[i] Graduanda do curso de Licenciatura plena em História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM/UECE.
[ii] IGLÉSIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.
[iii] Borges, Vavy Pacheco. O que é História, p.50.
[iv] IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira, p.37.
[v] SILVA, Janice Theodoro da. André João Antonil: Cultura e opulência do Brasil,p.57.
[vi] SILVA, Janice Theodoro da. André João Antonil: Cultura e opulência do Brasil,p.59.
[vii] Borges, Vavy Pacheco. O que é História, p.54.
[viii] Borges, Vavy Pacheco. O que é História, p.66.
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Referências Bibliográficas
BORGES, Vavy Pacheco. O que é História. São Paulo: Brasiliense, 1993.
IGLÉSIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.
SILVA, Janice Theodoro da. André João Antonil: Cultura e Opulência do Brasil. In MOTA, Lourenço Dantas (org.). Introdução ao Brasil: um banquete nos trópicos. 3ªed. Vol I. São Paulo: SENAC, 2001.
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