quinta-feira, 24 de abril de 2008

A Historiografia Brasileira e o IHGB

Fredivânia da C. Nogueira[i]
Francisco Antonio da Silva, Prof. da Disciplina Historiografia Brasileira

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Resumo: O presente artigo mostra a produção historiográfica do IHGB que mostra a importância da pesquisa e de documentações, ressaltando e noção de patriotismo. Também não deixando de falar de seus importantes feitos dentre eles a edição de sua revista assim como os congressos organizados por ele , e também a importância da história brasileira.Sem esquecer dos mais notáveis membros do instituto , de suas obras e da maneira de ver e escrever a história do Brasil.
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Introdução.
Por uma proposta do cônego Januário da Cunha Barbosa e do Marechal Raimundo José da Cunha Matos, o Instituto foi criado em 1838, numa assembléia composta por vinte e sete membros fundadores , inspirado no Institut Historique, fundado em Paris em 1834. Desde seu inicio contou com a mais alta elite econômica e literária do Rio de Janeiro inclusive com D. Pedro II, que disponibilizou uma ajuda financeira que com o passar dos anos só aumentava.
O Instituto foi fundado com a intenção de escrever a história do Brasil, procurando fazer uma história pedagógica e explicativa , ou seja , seguindo a forma tradicional, dando grande importância a pesquisa e a documentações.
Um dos mais importantes feitos do Instituto foi à edição da sua Revista em 1839, cinco anos após a edição francesa -da qual usou como modelo - esta continha textos do período colonial , assim como documentos do governo português, memórias e muitos outros escritos. Além da Revista o instituto promovia vários congressos , que reunião muitos historiadores que tinham trabalhos publicados em Anais.

Principais Membros do IHGB e suas Obras.

Em 1840, Januário da Costa Barbosa propõe um prêmio para quem apresentasse um trabalho que mostrasse a melhor forma de se escrever a História do Brasil. O ganhador do prêmio foi o naturalista alemão Karl Friedrich Philipp Von Martius, com a obra “Como se deve escrever a História do Brasil”, datada de 10 de janeiro de 1843 , foi escrita em Monique , especificamente para o concurso. nascido na Baviera (atual Alemanha), que entre 1817 e 1820 havia percorrido, entre outras, as então províncias da Bahia, Minas Gerais, Goiás e a Amazônia para colher material referente a sua especialidade, botânico.
Sua obra , fala de uma História filosofica , reflexiva e pragmática, ou seja algo bem diferente das crônicas (1500-1838), ele já pretende uma reflexão crítica acerca dos acontecimentos históricos, sua obra embora valorizasse a contribuição portuguesa, especialmente o regime monárquico, salientava, como característica principal na história brasileira, a fusão das raças branca, negra e indígena.
Pórem a História do Brasil, a ser escrita pelos membros do IHGB, deveria ressaltar os valores ligados à unidade nacional e à centralização política, colocando a jovem nação brasileira como herdeira e continuadora da tarefa cilizadora portuguesa. A nação, cujo passado o IHGB iria construir, deveria surgir como fruto de uma civilização branca e européia nos trópicos, segundo Schwarcz[ii].

O IHGB daria a monarquia brasileira uma nova história, uma iconografia original e uma literatura épica. Neste local, enquanto o passado era relembrado de forma enaltecedora, a partir de uma natureza grandiosa e de indígenas envoltos em cenários românticos. Já a realeza surgia como um governo acima de qualquer instituição, e a escravidão era literalmente esquecida.(2003:353) [iii]


Por tanto para se construir uma História do Brasil segundo Julia Malanchen[iv] & Suzane[v] da Rocha Vieira, significava a própria fundação da identidade do povo brasileiro, estas chegam a citar o francês Auguste de Saint Hilaire, que fala da impressão que teve quando veio ao Brasil na primeira metade do século XIX , “Havia um país chamado Brasil mas não havia brasileiros”. Para se ter sentimento de nacionalidade e patriotismo era preciso ter uma História pra contar, uma memória nacional.E esse era um dos objetivos do IHGB, escrever a História do Brasil.
Porém as obras desenvolvidas nessa época não apenas escreveram a Historia do país ,mas de certa forma criaram uma História, mostravam uma visão totalmente inversa dos portugueses, estes eram tidos como heróis, e únicos responsáveis pela expansão e desenvolvimento do país, que trouxe a civilização ao Brasil. Segundo Martius.

Se segue necessariamente o português, que , como descobridor, conquistador e senhor, poderosamente influiu naquele desenvolvimento: o português , que deu as condições morais e físicas para um reino independente, que se apresenta como o mais poderoso e essencial motor (1845:390) [vi]
Já os indígenas ainda segundo Malanchen & Vieira, eram “vistos em uma imagem romântica, sendo os naturais daquela terra, como homens sem alma e inteligência”, já a escravidão era esquecida para não sujar a imagem de boa conduta do branco português na colonização.
Porém o projeto de Martius não chegou a ser executado e foi Francisco Adolfo de Varnhagem, brasileiro nascido em Sorocaba -São Paulo, em 1816, que publicou em 1854 e 1857 a História Geral do Brasil , Varnhagem vai estudar alguns grupos indígenas e chega a afirmar que a “condição miserável e cruel , e a insensibilidade para concorrer à melhoria da humanidade”. Sua obra era totalmente conservadora , defendia a monarquia e principalmente D. Pedro II, que te ajudava em seus trabalhos, contestava a contribuição dos povos indígenas e defendia a escravidão, dizendo ser uma maneira de civilizar os negros e até mesmo o morticínio a favor da civilização.

Considerações Finais

Enfim não se pode julgar - mesmo que tal atitude nos deixe muito revoltado - devido o contexto em que a época se encontrava , o que significava civilização para época é crime para nós. Mas não podemos esquecer que o objetivo do imperador e do IHGB foi alcançado, pois a História brasileira foi-nos ensinada como algo bonitinho , que houve é claro algumas mortes mas que foram necessárias para a civilização.
Ai fica a pergunta no ar , será que fomos civilizados? Ou apenas aprendemos que para resolver algo que nos incomoda é preciso eliminar o causador do incomoda? A resposta não está no passado, e sim no presente, na nossa frente, no nosso cotidiano.

[i] Graduanda do curso de Licenciatura plena em História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM/UECE.
[ii] Lilia Katri Moritz Schwarcz é uma antropóloga brasileira. É doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e atualmente professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na mesma universidade, é autora de importantes obras como Raça e diversidade e As barbas do imperador - Dom Pedro II, um monarca nos trópicos.
[iii] SCHWARCZ. Lilia Katri Moritz Os Institutos Históricos e Geográficos. Os guardiões de nossa história oficial. São Paulo, Editora Vértice / Idesp, 1989.ver nota 5
[iv] Mestranda em Educação no Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, na Linha de Educação, História e Política. Professora efetiva da Rede Municipal de Cascavel – PR Integrante do HISTEDOPR - Grupo de Pesquisa em História, Sociedade e Educação no Brasil – GT da Região Oeste do Paraná, vinculado ao Grupo de Pesquisa em História Sociedade e Educação no Brasil, com sede na Universidade Estadual de Campinas
[v] Professora do Departamento de Estudos Especializados em Educação do Cento de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina –UFSC e Mestranda em Educação no Programa de Pós-graduação , na linha de Educação , História e Política.
[vi] In : MALACHEN, Julia; VIEIRA, Suzane da Rocha, A Construção de uma História Oficial através da invenção de um Passado. Revista Espaço Acadêmico – Nº 60 –Maio de 2006 – mensal – ISSN 1519.6180. ANO V. Disponível em : www.espaçoacademico.com.br/060/60Malanchenvieira.htm


BIBLIOGRAFIA
GUIMARÃES, Manoel Luis Salgado. Nação e civilização nos trópicos. Estudos Históricos :Rio de Janeiro. 1988.
IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil;: Capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro : Nova Fronteira: Belo Horiznte: UFMG,2000.
MALACHEN, Julia; VIEIRA, Suzane da Rocha, A Construção de uma História Oficial através da invenção de um Passado. Revista Espaço Acadêmico – Nº 60 –Maio de 2006 – mensal – ISSN 1519.6180. ANO V. Disponível em www.espaçoacademico.com.br/060/60Malanchenvieira.htm

MOLLICA, Orlando de Magalhães. Imagem e representações da identidade cultural brasileira e suas relações com a paisagem ,Publicação de trabalhos de alunos da Pós -Graduação ECO/UFRJ, 1º semestre de 2002 . Disponível em : www.eco.ufrj.br/livsovic/index.html

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