quarta-feira, 9 de abril de 2008

Historiadores do Brasil

José Arivaldo Liberato Dias Filho,
graduando em História - FAFIDAM-UECE
Francisco Antonio da Silva, Prof. da Disciplina Historiografia Brasileira
I – Introdução


Pode-se constatar com considerável freqüência, sobretudo nos níveis de ensino fundamental e médio, que os programas de ensino ao começar os conteúdos de História do Brasil cometem o erro (ou omissão) de referir-se com desdém aos primeiros registros históricos de nossa terra, afirmando, por exemplo, que o registro de maior peso dos anos iniciais de nossa História é a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha. Afirmo ser isso omissão, pelo fato de ter existido na mesma época, outros vários registros de até maior expressão do que a referida carta.
Após leitura e análise do livro de Francisco Iglesias Historiadores do Brasil no que se refere ao que ele define como primeiro momento da historiografia brasileira, ou seja, o período que abrange de 1500 até 1838, concordo em parte com a lógica de alguns docentes em não deter-se demasiadamente às obras do referido período, pois realmente a maioria destas apresentam-se mais como crônicas históricas do que propriamente conteúdos historiográficos. Entretanto, no âmbito dos livros didáticos e dos currículos escolares não há como calar-se ao fato de querer sintetizar toda a obra do período denominado por muitos como “quinhentismo” em simplesmente alguns registros no teor da carta de Caminha.
No presente texto, pretendo mostrar minhas percepções, após leitura e meditação do texto de Iglesias, sobre o fato de que (mesmo de forma limitada) existiam entre essas crônicas, algumas que tinham um certo tom “crítico” no que diz respeito a colonização e como em toda via de regra existe exceções, existiam algumas obras do período compreendido entre 1500 à 1838, que por sua lucidez e compreensão da “realidade brasileira” já eram consideradas grandes obras historiográficas, apesar das limitações e visões elitistas da época em questão.

II – Um olhar sobre as principais obras “historiográficas” de 1500 a 1838

No primeiro século da colonização temos obras exclusivamente de portugueses. Desde o provável iniciador João de Barros, do qual levantam a hipótese que sua obra perdeu-se e Pero de Magalhães Gândavo, pode-se constatar obras com pouco ou nenhum valor historiográfico que simplesmente consistiam na exaltação às vantagens das novas terras, visto que era um território ainda “não atraente” e pouco conhecido. Entretanto, outros dissertaram sobre nossa terra especificando-a melhor; entre estes estão os cronistas jesuítas Fernão Cardim e Gabriel Soares de Sousa. Este último é visto como o que melhor escreveu sobre a nova terra naquele período.
No início dos anos 1600, aparece a primeira obra de “História do Brasil” escrita por um brasileiro; é a obra de Frei Vicente do Salvador. Apesar de alguns (como Capistrano de Abreu) o criticarem dizendo que: “O livro era mais estórias do Brasil que História do Brasil”, sua obra já tinha lampejos de crítica ao colonizador e de nacionalismo, ao ponto de quando se tratava das lutas contra os índios, demonstrar certa simpatia com os dominados. Era também um otimista semelhante a Pero Vaz de Caminha e outros autores em vários aspectos, contudo não chegava ao ufanismo exagerado que se evidenciava nas obras destes.
Já o século XVIII traz muitos textos de genealogias ou descritivos no que diz respeito às entradas pelo interior. Obras como a de Rocha Pita, com discursos grandiosos e “hinos de exaltação” eram constantes. Porém, houveram exceções como André João Antonil, jesuíta que se mostrou como grande colaborador no que diz respeito ao estudo da economia, contudo seu livro acabou sendo proibido e recolhido na época; e Cláudio Manuel da Costa, que apesar de poeta, deu grande contribuição em sua obra Vila Rica.
É interessante notar que a administração portuguesa incentivava as autoridades da colônia a fazer relatórios de suas atividades, o que incentivou a produção de ricos registros dos quais muitos atingiam mesmo o nível historiográfico, analisando períodos e às vezes até retrospectivas históricas.
Começando o século XIX, temos a renovação e enriquecimento da História que se principiou na Europa. Os alemães (como Ranke, por exemplo) se destacavam no esforço em transformar a História em ciência; surge o positivismo, dando ao historiador a sua necessidade de ser imparcial, ou seja narrar o passado como ele foi. No Brasil, a colônia estava às prévias do seu fim e, posteriormente, a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (em 1838) viria a colocar nosso país em sintonia com o novo conceito de História como ciência.
Neste século a qual me referi anteriormente (século XIX) não me absterei de falar, ainda que brevemente, de autores consideráveis como Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos, que através de sua obra Minas e quintos de ouro foi o precursor da historiografia financeira e Robert Southey que mesmo sem visitar o Brasil, fez a primeira obra de grande valor sobre a História brasileira, onde inclusive previu a emancipação, levando em conta que a colônia era mais rica e potencialmente mais dotada do que a metrópole. Como inglês, ele não concordava com a colonização meramente de exploração, considerando que esta deve ter como prioridade aspectos civilizatórios.

III – Conclusão


Depois de observar as particularidades do período da historiografia contidas neste texto, pode-se constatar que, mesmo sendo “mais objetos de História de que historiadores”, as contribuições desses autores sob aspecto geral foram de suma importância para construção de um conhecimento historiográfico brasileiro.
Devemos então, como historiadores, nos despir de preconceitos e levar em consideração que assim como a própria História, a historiografia não é necessariamente linear; ou seja, se a forma de estudo se aprimora, devemos entender o contexto em que viviam e os interesses daqueles que outrora desenvolveram estudos; e não simplesmente julgá-los como desnecessários.
Referência Bibliográfica
IGLÉSIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte; MG:UFMG, IPEA, 2000.

Um comentário:

Rennan Penha disse...

Gostaria aqui nesse local virtual, deixar meus sinceros parabéns aquele que desenvolveu esse texto, sabiamente abriu horizontes antes trancafiados em minha mente. Sou um calouro em HISTÓRIA e fico grato pelo conteúdo, e peço que continue a nos iluminar e trazer indicações explicações e pontos vista sublimes como este. OBRIGADO.